Desde os nossos primeiros passos na infância, temos a capacidade singular de nos comunicar e de nos manifestar no mundo que nos cerca. Se expressar desde cedo é essencial para desenvolver a singularidade que nos conecta e nos difere uns dos outros. A criança que explora suas ideias, que desenha sem medo do traço torto, está plantando as sementes da própria identidade. A infância é marcada pela imersão no prazer genuíno dos gestos, onde a criança vive o presente sem preocupações com o futuro. Ao observarmos o desenho na primeira infância, é possível observar a relação intrínseca da criança com a matéria, onde ela se torna suporte e riscador, conhecendo o mundo e a si mesma por meio de movimentos e gestos.
No ato de criar, não apenas damos vida a novas formas, mas também delineamos o contorno de nossa contribuição para nós mesmos. O “o lugar no mundo” não é um destino fixo, mas um caminho de autodescoberta e reinvenção. Ao se expressar desde a infância, a criança está pavimentando uma estrada para construir e reconstruir esse lugar. É uma declaração de presença, um eco do eu mais verdadeiro, um compromisso consigo mesma e com o mundo que a cerca. Cada rabisco, cada traço, é um convite para descobrir o novo. A areia, por exemplo, convida as crianças a interagirem e proporciona uma experiência tátil única. Essa superfície maleável promove o prazer do gesto, seja escorrendo entre os dedos ou sendo moldada pelos pequenos exploradores. A argila, por sua vez, oferece uma abordagem diferente. Sua natureza bruta e molhada exige uma exploração mais lenta e cautelosa. As crianças, ao tocarem e moldarem a argila, estabelecem uma relação única, utilizando seus dedos e até mesmo seus corpos como ferramentas de expressão.
O papel, um suporte mais familiar para o desenho, ganha novas dimensões. As crianças exploram suas texturas e tamanhos antes mesmo de começarem a traçar com um riscador. Estendido no chão, o papel se torna um convite para um desenho amplo, onde as crianças desenham de diversas maneiras, explorando posturas diversas e permitindo que o traço extravase pelos mais variados caminhos. As crianças mais velhas, ao explorarem ferramentas como canetas, pincéis e tintas, estabelecem novas relações de experimentação e reconhecimento. Esses materiais tornam-se uma extensão de seus movimentos, permitindo-lhes compreender limites, texturas e possibilidades. O ato de marcar uma superfície, mediado por ferramentas, representa uma transição significativa no desenvolvimento expressivo das crianças.
É nessa busca do que é novo que encontramos as raízes de nossa curiosidade, alimentando o desejo de compreender e transformar. A criança que se expressa desde cedo está aprendendo a trilhar o caminho da descoberta, a abraçar o desafio do desconhecido como um convite para crescimento.
No mês de fevereiro, vamos falar de expressão e de desenho, uma das formas mais antigas da humanidade se comunicar. Conhece nosso Clube de Livro para Formação de Professores?
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