Mas afinal, é argila ou barro?
É importante que isso seja dito logo de início, porque existem algumas dúvidas com relação ao uso das expressões “argila” ou “barro”. Sob o ponto de vista da composição do material, estamos falando da mistura de terra e água em proporção que permita alguma manipulação com sustentação e maleabilidade.
Entretanto, a partir do refinamento dessa proporção, ou seja, a quantidade e qualidade das partículas sedimentares que compõem a mistura, ela passa a ser chamada de argila. Quanto mais finas, melhores são suas propriedades de elasticidade, moldagem e secagem.
Em que pese a importância em conhecer essa diferença (ou semelhança) entre a argila e o barro, sabemos que a utilização de qualquer um deles vai proporcionar experiências muito significativas e importantes para o processo de aprendizagem como um todo, em especial para as crianças da educação infantil e primeiros anos.
As memórias mais remotas
É preciso dizer que, por se tratar de um elemento natural, existe em nós humanos uma memória pré-instalada de relação com a terra e a água. Basta saber que o barro faz parte da história de grande parte das antigas civilizações, não apenas em suas obras arquitetônicas, mas também bastante presente em suas expressões artísticas e em seus cotidianos.
Esta relação de intimidade ancestral é muito facilmente detectada nas crianças, que demonstram muita atração natural pelos elementos naturais como o chão de terra, os pequenos seres vivos que o habitam, as folhas e gravetos das árvores, poças de água, etc..
O contato direto das mãos com a argila
Atenção! Não estamos nos referindo apenas às mãos das crianças! É necessário que as educadoras e educadores se entreguem à experiência, se não antes, pelo menos junto com os pequenos. É preciso retomar em nós as questões sensoriais, artísticas e lúdicas. Além disso, podemos retomar nossa infância (que é altamente recomendável).
A criança experimenta uma série de estímulos sensoriais em contato com a textura macia, úmida e levemente fria, e gradativamente passa deste primeiro momento da experimentação tátil para entrelaçar sua criatividade no molde livre ou estimulado.
As formas bidimensional e tridimensional
As formas e modelagens bidimensionais e tridimensionais podem não ocorrer necessariamente nesta mesma ordem, mas elas são diferentes. A bidimensional é aquela em que são gravadas impressões na face lisa da argila. Por exemplo: desenhar com um palito, comprimir sobre a argila uma folha de árvore ou outro elemento. Já a tridimensional é a moldagem efetiva de figuras como animais, bolas, objetos etc.
Preparação dos ambientes para atividades com argila
A não ser para as possibilidades de acesso natural, onde a criança pode interagir com o barro em sua forma natural quando encontrado num parque, no sítio ou na fazenda, a oferta deve se dar num ambiente preparado de forma a facilitar não só o acesso direto, mas que possibilite o exercício da criatividade da criança na exploração conjunta com outros elementos naturais.
Aqui também se revela a importância do educador se entregar pessoalmente no manuseio dos materiais de forma prática. A percepção da adequação da textura e da maleabilidade da argila pode garantir um melhor desempenho da interação da criança com os materiais.
Além disso, é importante que o educador se aproxime também das nuances técnicas mínimas para o manuseio da argila. Questões como pouca ou muita umidade, pouca flexibilidade e técnicas de união de peças produzidas separadamente colaboram muito no aprendizado.
Observação e registro dos processos
Durante as atividades é possível observar uma infinidade de ações corporais das crianças como: mãos em movimentos lineares (produções cilíndricas), mãos em movimentos circulares (produções esféricas), impressões de dedos (produção de cavidades ou furos), e até mesmo outras maiores com cotovelos, joelho e até mesmo os pés.
Com a observação individual, o educador se vê diante de uma série muito rica de possibilidades de registro dos processos criativos e pode se beneficiar de toda a riqueza criativa das crianças tanto na avaliação de suas aprendizagens quanto na potência de suas propostas.
Que tal fazer uso de argila ou barro com suas crianças? Perceba o quanto isso é prazeroso e proveitoso para elas, para nós educadores e para a construção da relação com os elementos naturais e interpessoais.
Mas lembre-se de uma dica! Aquilo que sobrará nas mãos, no chão e nos uniformes não é sujeira viu? São fragmentos do encontro feliz entre a infância, a natureza e a possibilidade. Não se preocupe com isso!