Um dia desses nos deparamos com um texto da jornalista Januária Cristina Alves sobre o perigo em ver o mundo apenas através das telas. No texto, ela mostra que vivemos em um cenário global em que não é mais possível saber o que é verdadeiro ou falso, o que é real ou manipulado. As fotografias eram alteradas desde antes da chegada do Photoshop, mas hoje vivemos uma era da “pós-verdade”, em que a tecnologia tornou a reprodução falsa da realidade cada vez mais verossímil. Hoje em dia, nenhum vídeo é confiável. E a tendência é que as alterações criadas por inteligências artificiais se tornem cada vez mais próximas do real.
Neste contexto, há uma busca incansável por estabelecer normas claras que resguardem crianças e adolescentes de conteúdos que podem ser prejudiciais. A regulamentação das mídias digitais emerge como uma necessidade premente diante da crescente dificuldade em controlar, mesmo remotamente, as plataformas que decidem o que visualizamos. A internet, assim como a realidade fora das telas, deve ter suas regras. Contudo, a iminente regulamentação enfrenta desafios ao ser associada à vigilância, censura e proibição. Como distanciar as crianças de um mundo do qual fazem parte? A proibição é o caminho mais seguro? Lamentar a proporção que diversas questões chegaram nos dias de hoje (e ser saudosistas com o passado) não traz muitas soluções. O ponto é encarar os desafios contemporâneos e propor novas ideias que não invalidem todos os benefícios da tecnologia.
Januária diz que dilemas como a presença de celulares na escola, a criminalização do cyberbullying, ou o uso de tecnologias educacionais levantam paradoxos complexos, exigindo uma revisão ampla dos métodos de educação contemporâneos. Neste contexto, enquanto crianças se perdem na exibição incessante e fragmentada das telas, uma ferramenta muito antiga pode ser estimulada para ancorar a formação de jovens com segurança, liberdade e criatividade: o livro.
Em meio às dificuldades enfrentadas pelas infâncias, onde o controle se apresenta como salvação, permitir espaço ao não dito, à criatividade e à imaginação é fundamental. A literatura para as infâncias torna-se uma ferramenta concreta contra fake news e desinformação, ao cruzar texto e imagem, ficção e realidade.
Enquanto a leitura confronta, questiona e movimenta, as redes sociais, governadas por algoritmos, podem aprisionar. A leitura deve ser vista como um antídoto para a estupidificação digital. É possível formar leitores críticos, mesmo diante dos desafios das redes viciantes. Como educadores, a missão é tornar o que parece distante, próximo. Na dúvida, um livro.
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