A primeira instituição que vai receber o seu filho pode até não ser “para o resto da vida”: mas vai, sim, marcá-lo para sempre. Aqui, uma lista dos recursos necessários para ajudar você a tomar essa decisão.

“Minha principal preocupação era encontrar uma escola com uma proposta pedagógica que refletisse minha forma de ver o mundo. Mas a verdade é que, quando você precisa deixar seu filho num lugar estranho, outras necessidades vêm à tona.”

Muitos pais, mães ou famílias, em geral, podem se identificar bastante com essa frase, ao enfrentar a tarefa tão complexa que é decidir em qual escola matricular o filho. Mas o desabafo é da coordenadora de atendimento corporativo Maíra Latorre, 36, mãe de Pedro, de 1 ano e 10 meses.

Quando engravidou, tinha planos bem definidos para iniciar o processo de escolha do dia a dia escolar do filho, como ter tempo para conhecer diversos lugares. Um imprevisto de saúde na família, no entanto, fez com que Maíra adiantasse a maratona de visitas em escolas e fosse impulsionada a resolver tudo em não mais do que uma semana.

Seja qual for a idade dos filhos, com muito ou pouco tempo, como Maíra, escolher a escola é uma sucessão de delicados detalhes. Tem a ver com o que a família dessa criança pensa sobre a infância, sim. É quando pipocam as memórias de infância dos pais. E, sobretudo, essa escolha vem carregada de uma forte expectativa por “acertar”: afinal, é um novo mundo que se abre para a criança, num espaço além da casa e com pessoas completamente desconhecidas. Mas também é esta a melhor parte: a oportunidade de o seu filho crescer em contato com desafios e oportunidades de aprendizado que serão fundamentais por toda a vida dele.

Ao procurar a escola para o seu filho – o que muitos pais costumam fazer a partir deste mês –, tenha em mente esse mantra: “Não há certo ou errado na escolha da primeira escola das crianças”. O que manda, mesmo, é o que fará sentido para a sua família, a dinâmica do dia a dia, seus valores pessoais.

Esse percurso, nem sempre simples, vai ganhar mais leveza se essa premissa já estiver no coração dos pais. E aqui você vai encontrar ajuda para percorrer esse caminho com mais argumentos. Faça uma lista para colocar na geladeira ou anote tudo no seu app preferido. Pode trocar algumas de ordem de importância, claro, mas não deixe nenhuma de lado.

NÚMERO DE HORAS

O período pelo qual a criança vai ficar na escola é o primeiro ponto a ser levado em conta (meio período, semi-integral, integral ou flexível). Conforme a idade da criança, essa duração vai se complementar à rotina de casa, além de se adequar aos tempos de trabalho dos pais, por exemplo.

Outros fatores da fase de desenvolvimento influenciam essa escolha: se ela se comunica bem ou não, se está usando fraldas, do que já se alimenta, quanto tempo de soneca costuma tirar por dia e por aí vai.

“Portanto, além de dimensionar a autonomia dessa criança, o principal é avaliar do que a família precisa”, diz a pedagoga Cristina Nogueira Barelli, coordenadora do curso de Pedagogia
do Instituto Singularidades (SP).

COERÊNCIA ENTRE DISCURSO E PRÁTICA

Desde o contato inicial com a escola – seja pelo site, redes sociais, histórias de amigos ou primeira visita ao espaço –, observe se tudo o que você ouviu está presente no dia a dia dali.

“Isso significa, na prática, olhar para as relações que acontecem na escola (entre pessoas, espaços, materiais) e como elas se constituem”, diz a pedagoga Fabiane Vitiello, que é sócia-fundadora da Diálogos – Viagens Pedagógicas, empresa de formação de educadores em São Paulo.

“Exemplo disso é ouvir sobre a importância do espaço de relação entre as crianças e, depois, notar os bebês em dinâmicas individuais em seus cadeirões ou berços, ou em jogos e brincadeiras cada um vivendo só seu momento, sem interação”, completa. 

QUANTO POSSO PAGAR

Os altos custos das mensalidades nem sempre correspondem à melhor escolha (ou à melhor escola). Nada justifica o constrangimento – e o desgaste emocional – de um débito impossível de ser sanado e, em última instância, a troca repentina de lugar.

Porém, vale saber como a escola lida com imprevistos, como negociações em descontos (especialmente no caso de irmãos) ou bolsas em caso de perda de emprego dos pais, por exemplo.

PERTINHO DE CASA

Ou do trabalho de quem vai levar e buscar, ou de alguém bem próximo que pode ser acionado em uma emergência.

“É muito difícil para a criança pequena percorrer longas distâncias”, alerta a psicóloga Cisele Ortiz, coordenadora adjunta do Instituto Avisa Lá (SP), de formação continuada de professores e equipes. Porém, o “pertinho”, às vezes, pode ser uma armadilha.

Se desconfiar de algo, pesquise. “Para começar, a escola precisa ser credenciada na Secretaria de Educação, que leva em conta aspectos como a formação de professores, espaço físico, se tem extintor de incêndio e todas as demais questões de segurança. São parâmetros que legislam a educação infantil e os pais poderão recorrer ao órgão, se necessário”, completa Cisele.

PROJETO PEDAGÓGICO

Não é simples de entender, mas a escola pode dar muitas (e boas) pistas. Há diversos tipos de educação ou métodos de ensino hoje vigentes no Brasil. “Temos escolas para todos os desejos, mais simples e modestas, em que a criança brinca muito; outras que vão prometer que seu filho vai estudar em Harvard, quando crescer.

O mais importante é que você, como pai ou mãe, tenha clareza do seu projeto de educação”, diz Cisele. De início, puxe pela memória mesmo. “Que tipo de escola eu frequentei, do que eu gostava e o que eu achava ruim? O que eu valorizo e o que eu não valorizo?” são questões que você deve se fazer.

E isso é mais do que se intitular “construtivista” ou “tradicional”. Para ajudar, o coordenador pedagógico pode dar exemplos de como se fazem os processos de aprendizagem, que linhas pedagógicas seguem, se enfatizam mais artes ou esportes, entre outros detalhes. “Pergunte como vai ser a rotina e, já no primeiro momento, observe como os adultos do lugar se relacionam com as crianças, se sentam no chão, se olham para elas da mesma altura, que tipo de linguagem usam, se as escutam de verdade”, recomenda Cristina, do Singularidades.

ESPAÇO FÍSICO

Além de refletir o projeto pedagógico, ele também “educa”. Sim, do tipo de imóvel da escola – grande ou pequeno, prédio ou casa – até como o espaço é dividido – muitas ou poucas salas, bem extenso ou menor, quintais ou quadras, quantidade e arquitetura dos banheiros, acessibilidades gerais ou específicas –, passando por detalhes de decoração e materiais de brincar, tudo conta!

A educação para as crianças pequenas no Brasil cada vez mais associa o “cuidar” com o “educar”. “É preciso um lugar que acolha os movimentos livres dos pequenos, ou seja, um local planejado para que eles possam descobrir e desenvolver habilidades por si mesmos.

Um espaço físico nunca é neutro: sempre dá notícias e nos aponta para aquela questão do discurso e da prática”, diz Fabiane Vittielo, da Diálogos. “É fundamental que a escola tenha espaço externo, que ele seja bem cuidado, de preferência com o máximo de verde possível, pois as crianças precisam de atividades ao ar livre e do contato com a natureza”, diz Cisele, do Avisa Lá.

TIPOS DE BRINQUEDOS E LIVROS

Os materiais também mostram como a escola conduz o projeto pedagógico ou como pensa o desenvolvimento infantil. Explorar vários tipos, aliás, diz muito sobre o lugar e é essencial.

Os pais só avistam brinquedos de plástico ou há também os mais artesanais e outros utensílios do dia a dia? No acervo de livros infantis, a diversidade impera ou encontram-se só personagens famosos? E como é o acesso a esses materiais? Tudo tem hora certa ou os pequenos têm liberdade para fazer suas escolhas? Se tem TV, ela é usada em ocasiões especiais ou cumpre a função de “cuidadora”? Esses
sinais são indicativos importantes sobre a instituição.

HIGIENE E ALIMENTAÇÃO

Os cuidados básicos podem ter mesmos padrões em alguns aspectos, mas variar em outros. Um ambiente extremamente asséptico pode ser fundamental para uma família, mas motivo de dúvidas para outra – especialmente para quem é adepto da vitamina “s”. Porém, certas práticas têm de fazer parte da rotina da criança, da conservação dos brinquedos à limpeza das mãos antes do lanche, e nada como o grupo para cultivar o hábito.

Além disso, se você não abre mão de uma alimentação saudável, traga o assunto já no momento da entrevista – assim, nenhuma restrição vai interferir no modo de viver da criança.

SEGURANÇA

Este item é um dos mais questionados na primeira visita à escola. Os olhos dos pais parecem escanear sinais de perigo em toda parte. Daí a importância de a escola mostrar a eles o limite entre o seguro e o excesso de zelo.

É também o momento de perguntar qual é o procedimento em situações de acidente com a criança, ou de uso de medicação, por exemplo.

Ou como a escola orienta as famílias quando surge uma doença contagiosa entre os alunos. É comum as crianças ficarem mais doentes quando entram na escola, já que aumenta o contato com seus pares. Mas nem por isso a instituição pode descuidar de certas medidas para garantir o bem-estar da turma.

FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

Isso é difícil de avaliar, sabemos. O único jeito é… perguntando! Questione se há “formação continuada”, que é uma maneira de o educador se manter atualizado e em constante revisão de suas práticas. Também converse sobre as dinâmicas das equipes, se elas se reúnem constantemente para conversas gerais. Pode ser uma maneira de ajudar a entender como é a devolutiva com os pais (relatórios ou reuniões coletivas e/ou individuais), outro item que vai deixar você mais tranquilo.

ACOLHIMENTO DA EQUIPE

Algo que deve estar evidente desde o primeiro instante! A família candidata à vaga não pode ser recebida apenas pela coordenação. Por isso, observe: como o segurança da entrada se porta com os pais e com as crianças? As crianças são incentivadas a estar com funcionários da limpeza e cozinha? Participam do dia a dia do lugar? Em uma escola, todos os adultos são educadores!

O tratamento dedicado aos adultos também conta: quando chegar a hora de entrar em contato com o departamento financeiro, se você sentir que é “apenas uma matrícula a mais”, atenção. Nesse quesito, não espere menos do que um tratamento humanizado.

ADAPTAÇÃO

A escola deve ser mais transparente do que nunca durante essa fase. Descubra, então, se os pais poderão ficar como as crianças ou, ao menos, se poderão vê-las de longe.
Se a escola acredita que essa não é uma boa ideia, a coordenação deve justificar o porquê. Tem um tempo determinado (dias ou semanas) para a adaptação?

O diálogo aqui vai fazer a diferença – para você, para o seu filho e para essa relação que começa a ser construída agora. “A escola reconhece a escuta como um valor? Esse pai tem voz? Tem acesso ao professor ou professora ou a participação se restringe a reuniões e datas comemorativas?”, diz Fabiane, da Diálogos. 

Lembre-se: cada um desses detalhes do convívio escolar tem um peso importante na formação do seu filho. Mas fique tranquilo: ao acompanhar de perto o processo, as dúvidas vão se desfazendo aos poucos e se transformando em certezas.

*Fonte: Revista Crescer- publicado por Cristiane Rogerio – atualizada em 20/09/2018 15h58.