O Que Carregamos de Volta: Uma Viagem Pedagógica a Harvard

Toda vez que partimos para uma viagem pedagógica, algo em nós se move antes mesmo do corpo sair do lugar. Há um desejo que pulsa, uma pergunta que ainda não tem forma, uma intuição de que o caminho nos transformará. E foi com essa abertura que, dias atrás, partimos com um grupo de 23 educadores para Boston — uma travessia potente marcada por encontros, escuta e deslocamentos.

Estivemos em lugares emblemáticos para a formação de professores, e vivemos experiências que ainda estamos digerindo — como é comum nas viagens com educadores.

Formação em Harvard: encontro com o Project Zero

Um dos momentos mais marcantes foi viver uma ação formativa dentro da Faculdade de Educação de Harvard, ao lado de Shari Tishman e Tina Blythe, pesquisadoras do renomado Project Zero, que há décadas investigam o pensamento visível, a cultura de pensamento e as práticas de ensino que promovem uma aprendizagem profunda.

A nós, somou-se também a presença generosa de Renata Araujo, da Composição, pesquisadora brasileira ligada ao projeto, que ampliou pontes entre o contexto. Foram horas preciosas de escuta, estudo, troca de olhares e partilha de inquietações que nos atravessam como educadores.

A bagagem pedagógica e a simbólica malinha Diálogos

E, como em toda viagem pedagógica da Diálogos, levamos simbolicamente a nossa malinha.

Pequena, mas cheia de intenções. A malinha da Diálogos já virou símbolo das nossas andanças e representa muito mais do que um mimo. Ela traduz a maneira como carregamos nossos saberes, nossas dúvidas, nossa história e os afetos que colhemos pelo caminho. Representa a bagagem pedagógica que não se mede por volume, mas por significado — e, principalmente, pela disposição de reorganizar o que se leva a partir do encontro com o outro.

Por que nos deslocamos para aprender?

Por que nos deslocamos?
Para que serve uma viagem formativa?
O que significa viajar com a Diálogos?

Para nós, viajar é uma forma de pensar a educação como movimento, como relação com o mundo. Educar é deslocar-se também. É sair do lugar conhecido, da rotina e do hábito, para ver a si, os contextos e os outros com olhos mais atentos e sensíveis. É entender que aprender não é acumular — é transformar.

E isso, muitas vezes, exige sair de cena. Ir ao encontro. Mudar de paisagem para mudar por dentro.

A volta e o tempo de reorganizar sentidos

Como qualquer viajante, ao voltarmos, nossa mala veio em desordem. Roupas fora do lugar, papéis soltos, lembranças misturadas. Um retrato simbólico de como voltamos: cheios, atravessados, mexidos.

A bagunça da mala é também a bagunça das ideias. E tudo bem. É preciso tempo para reorganizar a bagagem. Tempo para escutar o que ainda ecoa, para compreender o que fazer com o que foi vivido. O conteúdo de uma viagem pedagógica como essa não se esgota na experiência em si — ele precisa se acomodar, ser compartilhado, transbordar.

Essa viagem a Harvard foi um encontro profundo com o conhecimento, a escuta e o cuidado com a educação. E mesmo quem não esteve fisicamente com a gente, faz parte disso. Porque todas as viagens da Diálogos nascem do coletivo, da rede, da comunidade que segue conosco.A bagagem voltou cheia. Agora é tempo de abrir com calma, reorganizar, partilhar.
E se preparar para o próximo deslocamento.