O QUE É UM DIÁRIO DE BORDO E COMO USÁ-LO NA EDUCAÇÃO INFANTIL?

Todos no mesmo barco? Então vamos fazer uma pequena viagem por esta ferramenta auxiliar dos educadores, na importante tarefa de registrar suas ações. O chamado “Diário de bordo”.

Para que isso seja compreendido com maior facilidade, façamos uma breve comparação com aqueles nossos “diários” de registros de nossas vidas, especialmente em nossa adolescência e juventude. Alguns ainda guardados em nossas gavetas, outros apenas em nossas memórias.

Nestes diários onde registrávamos nossas vivências do cotidiano, de forma despretensiosa na maioria das vezes, existe uma riqueza de informações sobre nós mesmos. Nossas condutas diante das situações, nossas expectativas, desejos, frustrações, dores e amores. 

Estas informações, se não registradas, possivelmente vão tomando lugar de menor destaque em nossa memória com o passar do tempo, e apenas aquelas de maior impacto habitam em nós por um período maior de tempo. Estas são intituladas por Jorge Larrosa – educador de Filosofia catalão -como experiências que nos atravessam. 

Mas esta lembrança sobre o que eram nossos diários da vida pode nos entregar uma reflexão mais profunda sobre os diários de bordo na educação infantil e nas séries seguintes e sua importância como registro pedagógico. Então vamos lá…

O que é o diário de bordo?

O diário de bordo é um registro de suas ações diárias e todos os detalhes relevantes que elas desencadearam: o comportamento das crianças diante delas, suas formas de interação, identificando e registrando as habilidades e dificuldades surgidas, a forma como comunicam suas percepções, ofertando a possibilidade de reflexões acerca da intencionalidade de cada atividade proposta.

Além de tudo, o diário de bordo é uma excelente fonte de pesquisa para nos auxiliar em avaliações, reuniões de pais, pareceres e debates entre educadores, porque nos oferta uma espécie de “retrospectiva” de nossas ações e atividades, enriquecidas dos registros de seus impactos nas crianças individualmente.

Qual o objetivo do Diário de bordo?

Um dos objetivos do diário de bordo é ampliar o tecido de nossos registros, de forma diária e detalhada, com a finalidade de enriquecer nossas informações sobre as atividades e ações propostas, as relações estabelecidas em nossas crianças e a reflexão mais refinada sobre as intencionalidades e seu alcance.

Tomo emprestada uma definição de Simony Dotto e Alessandra Assis, presente no livro “DIÁRIO DE BORDO: Instrumento de transformação de professores e gestores na Educação Básica” para explicitar a sua importância no percurso formativo de todo educador:

“Pode-se dizer que o Diário de bordo é um instrumento metodológico, porque organiza tanto a ação docente, promovendo sua metacognição, a busca e o entendimento da práxis, como a ação do coordenador pedagógico, permitindo maior compreensão das demandas formativas que são explicitadas nesse movimento de metacognição docente, revelado pela escrita. Portanto, o Diário de bordo organiza e dá maior sentido aos percursos formativos.

Como construir um diário de bordo na Educação Infantil?

Do ponto de vista material, caneta e papel já são suficientes. Entretanto existem muitas formas de construir seu diário de bordo. Cadernos, agendas, arquivos digitais ou qualquer forma de registrar a cronologia e todos os acontecimentos relevantes do cotidiano de suas salas de aula.

Vale dizer que quando sugerimos o registro de acontecimentos relevantes, por certo que estamos incluindo até aquilo que eventualmente não foi bom. O erro deve fazer parte de nosso aprendizado, sempre.

DIÁRIO DE BORDO – INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO DE PROFESSORES E GESTORES DE EDUCAÇÃO BÁSICA

Este é o título do livro que acompanha nosso kit do mês de abril/22 do clube de assinatura Diálogos Embalados. Sob a organização de “Cristiano Alcântara” e “Ana Lúcia Borges”, o livro traz uma rica coleção de exemplos de registros de diários de bordo e as reflexões dos autores sobre eles.

No livro, algumas importâncias intrínsecas ao diário de bordo:

– PLANEJAMENTO – Os registros devem estar alinhados àquilo que foi planejado pelo educador ou pela instituição, de forma que suas observações façam sentido. Inclusive para, a partir das observações, estar aberto a novos planejamentos.
– ESCUTA – Entregar a necessária escuta à criança para o reconhecimento da construção, ou não, da relação ensino/aprendizagem.
– REFLEXÃO – O educador necessita exercitar constantemente suas reflexões sobre suas práticas e a forma com que elas impactam suas crianças, de forma coletiva e individual.
– DEVOLUTIVA – O compartilhamento dos registros do diário de bordo com outros educadores, com a coordenação ou direção, pode proporcionar observações e reflexões a partir de outro olhar, pluralizando os debates e as conclusões.

Dividido em três partes, o livro traz inicialmente os registros de uma professora em seu diário de bordo enquanto atuava na educação infantil de uma escola pública. Na segunda parte, textos dos autores e suas análises conceituais sobre o diário e sobre as experiências autorais. Ao final, o deslocamento da escrita do diário de bordo como prática docente, evidenciando a experiência dos gestores que optam por esta prática.

Certamente, uma riqueza que certamente contribuirá com seus estudos, aprofundamentos, questionamentos em busca de um olhar mais refinado sobre nossas crianças, objeto central das nossas ações.

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