Vamos fazer um pequeno exercício mental antes de adentrarmos especificamente à temática do registro pedagógico?

Então que tal pensarmos, inicialmente, apenas no registro? Por quantas vezes num único dia sacamos rapidamente nossos aparelhos celulares para obtermos uma foto digital de algo importante ou inusitado? 

Quem nunca ligou um gravador digital para registrar uma fala importante de alguém? Ou anotou num guardanapo de papel uma declaração de amor para entregar  à pessoa querida? Quem nunca…

E o que dizer das atas das reuniões de trabalho ou de condomínio? Das escrituras públicas e contratos de compra de nossos bens? Tudo registrado. 

O QUE É REGISTRAR?

Registrar, portanto, é transformar o momento vivido em algo material, onde nossa lembrança possa recolher detalhes que o tempo não deveria ter a força de apagar. O exercício de retomada de um registro nos remete de volta no tempo para aguçar nossa memória e nos oferecer as sensações experimentadas.

Mas não é só isso, conquanto já não seja pouco. Existe uma importância processual nos registros, na medida em que podemos observar neles, também, a evolução das conquistas pessoais, patrimoniais, culturais, sociais, etc.. Tanto as nossas, quanto as daqueles que são objeto de nossos registros.

Assim, seja apenas um registro individual para tornar perene, ou um conjunto de registros para a construção histórica, fato é que o registro é capaz de documentar e tornar visível nossas ações e suas interferências no mundo. 

COMO FAZER UM REGISTRO PEDAGÓGICO?

Toda a importância conceitual do registro pode (e deve) ser aplicada no ambiente pedagógico. Desde os primeiros movimentos destinados ao planejamento, às intencionalidades, aos objetivos e conteúdos, até as práticas e resultados obtidos devem ter lugar nos registros dos educadores.

Desta forma, todas as modalidades de registro se mostram válidas e aptas a compor o acervo do educador. Por certo que cada instituição de ensino pode optar pela adoção específica desta ou daquela forma de registrar, mas também é certo que deve existir uma liberdade na coleta dos registros de forma a favorecer os educadores em suas habilidades pessoais.

Mas efetivamente, o que pode ser usado como registro pedagógico?

– Diário de classe
– Relatórios periódicos
– Anotações físicas (papel)
– Anotações digitais (equipamentos eletrônicos)
– Fotografias (físicas ou digitais) 

Observe que a esta lista podemos inserir qualquer outra maneira que o educador encontre para produzir seus registros pedagógicos, porque para muito além de sua “forma”, sua importância se concentra muito mais no seu “conteúdo” e nas inúmeras “possibilidades” que este conteúdo oferta quando de sua consulta e consequentes reflexões.

QUAL A IMPORTÂNCIA DO REGISTRO PEDAGÓGICO?

O educador que se apodera do hábito saudável de registrar, de início alimenta sua força autoral na construção das ações e propostas planejadas, possibilitando sua autoavaliação, construção, renovação e reconstrução de seu papel.

Quanto mais amplo, maiores também serão as possibilidades de suas reflexões sobre sua atuação na relação ensino-aprendizagem. O arsenal registral de um educador é um instrumento de formação continuada, porque revela o educador que fomos, o que somos, e pode nos orientar a encontrar o educador que desejamos ser. Auto conhecimento em favor do crescimento profissional.

Por outro lado e não menos importante, os registros nos possibilitam um acompanhamento personalizado e individualizado de cada criança. A partir da premissa de que a criança deve ser protagonista do processo, existe importância crucial no acompanhamento pormenorizado das vivências experimentadas por cada uma delas.

Tanto para que haja aproveitamento máximo das propostas e de suas intencionalidades, quanto para que efetivamente tenhamos a exata proporção do impacto causado em cada uma delas, conhecendo e reconhecendo as habilidades e competências de cada educando.Desta forma, os registros também são um instrumento facilitador na condução de reuniões pedagógicas, reunião de pais e na construção de processos avaliativos

E vai além. De forma global, os registros pedagógicos são capazes de contribuir na construção social dos indivíduos, na formação de uma coletividade em seus aspectos evolutivos e na própria evolução histórica e cultural de um povo.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE REGISTRO E DOCUMENTAÇÃO?

Este é um dos questionamentos que precisam ser elucidados de uma vez por todas. Ainda que sejam ligados diretamente, existem diferenças conceituais que devem ser compreendidas. 

Todas as formas existentes que o educador encontre para promover as anotações daquilo que considere importante no desempenho de se suas tarefas cotidianas podem ser considerados  instrumentos para registros. Post-it, diário de bordoportfólio, diário, relatório, fotografia, gravação de áudio. Tudo o que pode ser retomado para consulta posterior.

Já a documentação pedagógica transcende a função de mera memória. Ela representa a soma dos registros de forma a tornar-se algo transformador. A documentação deve ter ação reflexiva e emanar luz, para orientar e reorientar o planejamento, possibilitar escuta ativa e ressignificar as ações e reflexões do cotidiano, tanto com foco no indivíduo (educador/educando) quanto no coletivo (escola/sociedade). 

QUAIS FERRAMENTAS USAR NA DOCUMENTAÇÃO? 

É preciso ter sempre em mente que uma documentação pedagógica se constrói sobre três pilares estruturais:– Observação: ter os sentidos a postos para compreender o que se passa efetivamente no trabalho pedagógico, com especial atenção para a criança, compreendendo seus processos individuais.
– Registro: materializar as observações fisicamente, formando um conjunto robusto de elementos de consulta e reflexão.
– Interpretação: coletar conclusões funcionais, de forma a ser possível análises claras de conhecimento e projeção. Interpretar para projetar, como nos ensina Paulo Fochi.

Portanto, tudo o que for possível e necessário pode ser utilizado como ferramenta de registro. Mas na construção da documentação, as que não podem faltar são: nossos olhosouvidos, colo e nosso desejo sempre renovado de conhecimento, autoconhecimento, pertencimento, formação e renovação constante de nossos saberes, em favor de todos os saberes. Estarmos abertos às transformações que nos apresentem necessárias e, a partir delas, transformar o mundo, todos os dias.