Duas forças unidas
Qual é o sentimento que temos quando pensamos em pessoas como: Marco Polo, Cristóvão Colombo, Pedro Álvares Cabral, Amir Klink? Seria Admiração?
Para que possamos responder esta pergunta é necessário avaliarmos o que exatamente nos causa admiração. Será o fato de serem pessoas destemidas e que se permitiram explorar o mundo com suas habilidades pessoais?
Ou será que as admiramos porque reconhecemos que suas aventuras na exploração de novos mundos e experiências inéditas os fizeram transformar em pessoas absolutamente especiais? Afinal, quem não gostaria de poder tomar um café e escutar deles suas próprias histórias?
Parece claro que quando nos permitimos explorar algo, ou alguma situação, fazendo máximo aproveitamento de cada detalhe e vivenciando profundamente cada experimento, cada descoberta e cada inédito, estaremos agregando valores ao que somos, ao que sentimos e por consequência, possibilitando melhores avaliações dos significados de todas as coisas.
Esta formação de vínculo entre a ação e a reflexão, promovendo uma continuidade do pensamento explorador, sem interromper ou segmentar o conhecimento nos parece a melhor maneira de tornar robustos os saberes, inteiros.
Trocando em miúdos: um único movimento em direção ao conhecimento pode gerar inúmeras aprendizagens. A sequência de experiências que se pode viver num movimento de exploração livre, com as possibilidades sensoriais, cognitivas e imaginativas é de uma riqueza sem fim.
É preciso estar aberto
Feita esta reflexão sobre o engrandecimento de nossos saberes a partir das explorações a que pudermos nos submeter, podemos concluir que existe importância fundamental na construção do conhecimento em nossas crianças.
Seja para nos ativarmos em nossas próprias explorações ou para proporcionar melhores experiências exploradoras para as infâncias que nos são confiadas, precisamos estar absolutamente abertos às possibilidades que se apresentarem.
É muito comum nos perdermos em nossos afazeres rotineiros, seguindo por nossos caminhos cotidianos, repetindo movimentos de forma automática, quase mecânica deixando de fazer uso das pequenas e valiosas experiências escondidas por detrás de nossa cegueira.
Coisas grandes ou coisas pequenas?
Engana-se quem acredita que existe uma relação proporcional de importância a partir do tamanho das experimentações. Não se pode presumir a grandiosidade de uma experiência até que se lhe conduza a termo. O processo de desenvolvimento da exploração com todas as suas nuances, por si só, já tem grandiosidade garantida, independentemente de algum resultado que a experiência possa, ou não, apresentar.
O livro “As mais pequenas coisas – Exploração como experiência educativa”, de Monica Guerra, que compõe o kit do mês de junho do clube de assinatura para formação de professores Diálogos Embalados é um aprofundamento sobre este tema que não pode faltar em sua leitura.
Não só trazendo conceitos filosóficos e pedagógicos sobre o tema e sua estreita relação com a infância, mas apresenta propostas para nossa gradual e permanente retomada ao convívio com as pequenas coisas, que passaram a ser invisíveis aos nossos olhos.
O modo como olhamos as coisas
O que efetivamente atribui significância às coisas é a nossa capacidade de reconhecer nelas sua própria história, sua forma de interagir e comunicar com o mundo, seus contextos e sua origem. Sendo assim, o quanto mais profunda for a nossa capacidade de olhar, maior será nossa capacidade de ver.
Esta relação entre a forma como olhamos as coisas e nossa capacidade exploradora é muito estreita. Como nos diz Monica Guerra:
“Ser explorador significa cultivar a profundidade do olhar da pesquisa, ou seja, um olhar que se renova diante das coisas, questiona o que encontra, indaga o existente na tentativa de compreendê-lo, mas no sentido de fazer parte disso, em vez de fazê-lo realmente. É um exercício entrar em relação com as coisas e com o mundo para poder dialogar e, sobretudo, participar.”
Observe que não se trata de um exercício superficial. Para se transformar em um explorador é necessária uma transformação profunda de um estado de inação e conformismo para uma posição de ação no inconformismo, passando pela reconstrução das respostas já consolidadas e pela construção de novas e inéditas questões.
Em última análise, é possível afirmar que quando alteramos nossas posturas com relação ao mundo e as coisas, com olhos abertos ao novo e dispostos a ressignificar o que não é novo, estamos nos oferecendo um algo a mais, que ultrapassa as experiências pedagógicas.
Ressignificar as coisas pequenas do cotidiano pode representar uma ressignificação de nossa própria existência. Explorar o mundo significa também explorar suas próprias construções interiores. Isso significa que existe possibilidade de ressignificar toda sua vida.
Deixar de atribuir importância àquilo que pensamos ser importante ou passar a considerar importante aquilo que sequer havíamos notado é uma das melhores experiências que um ser humano pode experimentar. E isso é possível a partir da exploração, da mudança de postura com relação às coisas e da forma como olhamos para todas elas.
Este é um convite muito especial, que pode transformar tudo…
Vamos?
*Fotos: Escola Semear e arquivos pessoais