Vivemos em uma sociedade em que o consumo é, por muitas vezes, palavra de ordem nas relações. Durante algumas décadas, em especial nos anos de 1980 e 1990, programas voltados para crianças estimulavam a competição e as compras de brinquedos e acessórios que eram tendência. Quem não se lembra da propaganda das tesouras infantis e o bordão. “Eu tenho, você não tem?”
As propagandas voltadas ao público infantil, especialmente nas mídias tradicionais, foram regulamentadas e restritas. No entanto, especialmente devido à fácil acessibilidade às tecnologias e mídias digitais que as crianças têm hoje em dia, as propagandas dirigidas às crianças têm sido amplamente debatidas. De que forma podemos contribuir para uma infância saudável, em que não se internalize o consumo como uma regra nas relações humanas? De que forma a criança é retratada nestes conteúdos? Quais são os padrões de beleza? Quem pode consumir? Como promover uma educação que desconstrua estereótipos e valorize a diversidade?
Estudos apontam que as propagandas presentes nas redes sociais podem incentivar o que é chamado de “adultização” dos corpos infantis, promovendo precocemente o consumismo e a erotização. A imposição de padrões de beleza e comportamento através de imagens midiáticas não só reforça estereótipos, mas também restringe a expressão individual das crianças, criando uma visão limitada e distorcida de si mesmas e dos outros. Esse processo de padronização tem implicações significativas na formação da identidade infantil, impactando a maneira como as crianças se percebem e se relacionam com o mundo ao seu redor.
As propagandas contribuem de forma significativa para estabelecer normas de aparência e comportamento que muitas vezes são inatingíveis e excludentes. Essas mensagens contribuem para criar expectativas nas crianças sobre como devem ser e agir, o que compromete a diversidade e a singularidade. As crianças, ao internalizarem todos esses conteúdos comerciais, podem desenvolver inseguranças e sentimentos de inadequação que influenciam negativamente sua autoestima. É crucial que educadores e pais reconheçam esse impacto e busquem maneiras de contrapor essas narrativas restritivas.
A introdução de brinquedos diversos, que trazem perspectivas pedagógicas e não comerciais na educação infantil é uma oportunidade para desafiar e reconfigurar essas percepções. Os brinquedos não são meros objetos de entretenimento, são ferramentas que contribuem na construção de identidade e percepção de diferentes aspectos da experiência humana. Quando utilizados de maneira consciente e inclusiva, podem ajudar as crianças a questionar os estereótipos de gênero e a explorar uma gama mais ampla de possibilidades de expressão e identidade.
Dialogar com as crianças sobre os brinquedos e as histórias que eles representam é uma estratégia eficaz para promover uma compreensão mais ampla e inclusiva. Essas conversas podem abrir espaço para que as crianças reflitam sobre as normas que lhes são impostas e reconheçam a legitimidade de suas próprias experiências e sentimentos. Ao encorajar uma abordagem reflexiva e crítica, os educadores podem ajudar as crianças a desenvolver uma visão mais complexa do mundo, que valorize a diversidade e celebre a singularidade. Nunca devemos esquecer que a educação deve ser um espaço de liberdade e descoberta, onde cada criança possa explorar e afirmar sua identidade de maneira plena e autêntica. Ao resistir à padronização e celebrar a diversidade, podemos ajudar a formar indivíduos mais seguros, empáticos e abertos, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e equitativa.
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