De professor para professor

Seis encontros para repensar a prática: destaques dos ciclos sobre abordagens participativas

Carolina Kerr

27 out 2025

5 min de leitura

Neste ano de 2025 realizamos dois ciclos de encontros sobre abordagens participativas! Foram quase 400 pessoas inscritas entre educadores, gestores e formadores.

É interessante como os processos formativos também nos transformam enquanto formadores. Desde o momento em que desenhei este ciclo, vivi um movimento intenso de resgate: revisitei livros e anotações antigas (inclusive os cadernos da minha primeira visita a Reggio, em 2015), olhei fotos de escolas que visitei, mergulhei nas minhas documentações e revi as lives sobre investigação que fiz em 2021 com parceiras e parceiros muito sabidos.
Cada encontro exigiu estudo e síntese — havia tanto que eu gostaria de compartilhar em apenas duas horas!

As devolutivas recebidas foram muito significativas. Fico feliz em saber que, de alguma forma, esse percurso impactou o trabalho e o olhar de tantas pessoas. Afinal, são as crianças que acabam sendo beneficiadas quando os adultos se transformam.

Como exercício de avaliação do percurso, propus-me a revisitar todos os encontros e escolher alguns destaques de cada um. Não foi uma tarefa fácil, mas cheguei a algumas ideias que acredito possam interessar tanto a quem participou quanto a quem não esteve conosco.


1º encontro – Abordagens participativas e a escola tradicional: o que muda no cotidiano das crianças?

  • A escolha pelas abordagens participativas é uma resposta aos direitos das crianças.
  • A imagem de criança presente nas DCNEI (2009) deve ser uma bússola para a construção da experiência educativa, pois a visão que temos de infância sustenta toda uma rede conceitual.
  • A aprendizagem é mobilizada por um desejo intrínseco do sujeito, sustentado por seus interesses — e essa é uma premissa fundamental dessas abordagens.
  • Planejar com as crianças, e não para elas, é uma mudança de chave essencial. É no encontro entre as intencionalidades dos professores e das crianças que o currículo se constrói.

2º encontro – Da curiosidade à investigação: o encontro entre as intenções das crianças e dos professores

  • A curiosidade é o motor da aprendizagem. Nosso papel é sustentá-la para que as crianças possam viver processos investigativos com profundidade.
  • É preciso espaço e tempo para que a curiosidade ingênua se transforme em curiosidade epistemológica, como dizia Paulo Freire.
  • A investigação não é uma estratégia de ensino, mas uma forma de aprender — um processo de compreensão daquilo que ainda não sabemos. E, para isso, precisamos de tempo e oportunidade.

3º encontro – Atividades livres e dirigidas ou contextos investigativos: o que muda? Por onde começar?

  • O que é prioridade na organização do tempo? O bem-estar de todos deveria ser o ponto de partida, assim como a compreensão de que o tempo da aprendizagem não é o do relógio, nem o de 30 minutos.
  • As crianças precisam de tempo para viver seus processos de investigação, e os professores precisam de tempo para acompanhá-los.
  • Os contextos são determinados pela interação recíproca entre sujeitos, espaços, tempos, materiais e sentidos construídos — e, por isso, são sempre novas experiências.

4º encontro – O cotidiano como fio condutor: por uma experiência significativa para bebês e crianças

  • O cotidiano é o catalisador das aprendizagens — das crianças e dos adultos. Ele é conteúdo, tempo de experiência e também campo de estudo.
  • Na perspectiva das abordagens participativas, é do cotidiano que emergem as investigações das crianças e também dos adultos, assim como as escolhas de aprofundamento dos projetos formativos, sustentados pela coordenação.
  • É necessário que a escola garanta o direito à continuidade das experiências, mantendo-as pelo tempo que for necessário e questionando a lógica da novidade. A continuidade permite que as crianças aprofundem as investigações e que os adultos tenham tempo para se aproximar dos processos de cada uma.

5º encontro – O papel do coordenador pedagógico na perspectiva das abordagens participativas

  • Não há escola participativa sem gestão participativa — foi com essa discussão que iniciamos o encontro.
  • A formação em contexto, proposta por Júlia Oliveira-Formosinho, é um caminho potente para pensar a formação nessa perspectiva, pois destaca a necessidade de construir uma pedagogia da infância produzida todos os dias na escola, pela equipe pedagógica.
  • Um dos desafios que a autora nos lembra é o dilema ético em relação à pedagogia da escuta: a pressa por resultados pode levar a coordenação a oferecer respostas prontas e modelos, quando o que desejamos é a invenção de práticas — e isso precisa ser construído em um ambiente de escuta e participação.

6º encontro – A ideia de ateliê e as linguagens na construção do conhecimento: um olhar pedagógico

  • As linguagens nos ajudam a construir conhecimentos complexos e sentidos inéditos.
  • Ao explorar novas linguagens, ampliamos nossas formas de expressão e também enfrentamos os desafios e limitações que elas impõem.
  • Professores precisam viver experiências com múltiplas linguagens não apenas para ensinar melhor, mas para aprofundar seus próprios modos de conhecer e sentir.

Agradeço a cada participante e levo comigo o desejo de que esses encontros sigam reverberando nas escolas, inspirando práticas que garantam os direitos das crianças.
Se você esteve conosco nesse projeto, deixe um comentário por aqui.Um abraço,
Carolina Kerr

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