É prova escrita, dissertativa, múltipla escolha ou oral? Programada ou de surpresa?
Nada disso. O processo avaliativo sofreu mudanças muito significativas, profundas e absolutamente necessárias. Ele se tornou uma tarefa mais complexa e completa que exige muito mais do educador, entretanto, adquiriu bastante assertividade e, porque não dizer, muito mais sentido.
Em orientação do Ministério da Educação encontramos uma diretriz para o processo avaliativo que diz:
“A avaliação será sempre da criança em relação a si mesma e não comparativamente com as outras crianças. O olhar que busca captar o desenvolvimento, as expressões, a construção do pensamento e do conhecimento (etc.) deve identificar, também, seus potenciais, interesses, necessidades, pois, esses elementos serão cruciais para a professora planejar atividades ajustadas ao momento que a criança vive. A avaliação ocorre permanentemente e nunca como ato formal de teste, comprovação, atribuição de notas e atitudes que sinalizem punição.”
E agora nos diga… Quem é você quando avalia?
Da criança em relação a si mesma
Promover a avaliação da criança em relação a si mesma é transformar o processo em uma ação única e continuada, onde o educador deixa de traçar paralelos entre a turma e passa a observar a evolução individual, considerando o conjunto de saberes já trazido pela criança e a soma daqueles novos que lhe foram ofertados.
Neste contexto, não é aconselhável a comparação entre os saberes de uma com relação à outra criança. É necessário observá-la a partir de suas potências cognitivas mais evidentes, seus desafios mais profundos e sua formação de forma emocional, social e cultural.
Captar o desenvolvimento, as expressões, a construção do pensamento e do conhecimento
Muito mais do que captar momentaneamente algumas respostas para perguntas pré-definidas, a ideia é reconhecer e identificar a construção dos saberes da criança através do conjunto de informações contidas em suas manifestações de expressão, observando as evoluções de seu pensamento e seus conhecimentos durante todo o tempo.
Numa roda de leitura, durante desenvolvimento de jogos, no desenhar e no escrever é sempre possível a observação da construção dos saberes. Aqui nasce uma das fontes de importância dos registros em todas as suas modalidades. A partir da elaboração e apreciação dos registros, o educador é capaz de extrair o material necessário à sua avaliação.
Identificar potenciais, interesses e necessidades
Com tal transformação, o processo avaliativo passa a ser uma forma de melhor elaboração das atividades cotidianas. A partir da identificação das potências, os interesses e as necessidades da criança, o educador tem a possibilidade de construir e contemplar todos os aspectos do aprendizado, tirando a avaliação do conceito de aferição de conteúdo absorvido, para que ela seja parte de seu planejamento pedagógico.
Planejar atividades ajustadas ao momento que a criança vive
Com a individualização da avaliação, afastando-a da comparação entre seres, é possível, como dito, planejar e construir as atividades com os olhos voltados para a criança e seus saberes, evitando lacunas na absorção dos conteúdos.
É como se passeássemos com a criança de mãos dadas, mas respeitando o ritmo singular de seu caminhar. Não puxá-la pelo braço neste passeio permite apenas que ela chegue ao destino, mas especialmente para que a velocidade não lhe impeça de apreciar o caminho, conhecendo e identificando o que lhe é ofertado a cada passo.
A avaliação ocorre permanentemente
Com o afastamento das modalidades conhecidas por “provas” ou “testes”, que eram aplicados em datas e horários definidos, surge o caráter permanente da avaliação. Este conceito de avaliar ao longo do tempo e a possibilidade de assim fazer, está diretamente ligado ao acervo registral do educador.
A qualidade dos registros é capaz de entregar maiores possibilidades de observação sobre a evolução individual da criança, desde as mais singelas manifestações até aquelas mais robustas.
E mais. Entrega ao educador a possibilidade de avaliar-se. De conhecer e de reconhecer seus próprios desafios e suas conquistas, aprofundando ou transformando seus conceitos de infância, de criança, de escola, de sociedade e de cultura.
Então, quem é você quando avalia?
Permita-se esta reflexão. Qual sua postura no avaliar? Até onde suas próprias questões interferem no seu processo? Quem deve reger a sua capacidade, suas expectativas com relação às crianças como um todo ou seu discernimento e preparo para identificar cada indivíduo, cada detalhe, cada passo, cada ritmo?
Questiona-se continuamente sobre a retirada do processo comparativo entre as crianças, mas da mesma forma não permitir que busquemos a nós mesmos quando avaliarmos. Francesco Tonucci ilustra brilhantemente esta reflexão:
Imagem retirada da internet – Direitos autorais do escritor;
Vamos pensar na avaliação como um agradável passeio ao parque, onde ora as mãos estão entregues à criança, ora estão livres para pequenos voos autônomos. Neste passeio existe uma infinidade de ofertas dos mais diversos repertórios de aprendizagem que estão disponíveis a eles.
A nós, educadores, cabe observar os passos, os ritmos, as possibilidades, as construções, com o olhar atento ao caminho e ao caminhar.
Fazer da avaliação um processo de meio, e não de fim. Para que ela seja uma ferramenta de construção de saberes em favor da criança, do professor, da escola e da própria sociedade como um todo.