Vou pedir uma concessão muito especial para vocês, para que me permitam escrever este artigo em primeira pessoa. Apenas pelo fato de que vou apresentar nesta reflexão alguns detalhes de minha própria vivência.
O contexto histórico
Quando a equipe me solicitou que escrevesse um artigo sobre a pausa, me ocorreu uma lembrança muito viva sobre o meu primeiro contato concreto com esta palavra. Recordo-me com muita nitidez de algum período dos anos 80, quando conheci um aparelho que, nos dias de hoje, está em absoluto desuso: o videocassete.
Acostumado a ter acesso apenas aos filmes exibidos na televisão, ou no cinema, uma das coisas que mais me marcaram nesta evolução tecnológica da época foi este botão que se localizava bem ao lado do “play”. O “pause”.
Naquele modelo, ainda não tínhamos o avanço que só viria algum tempo depois, o controle remoto. Mas era tão prazeroso assistir um filme escolhido, no conforto de nossa própria casa e com a família reunida, que nunca foi um desconforto ter que levantar para apertar o botão.
A gente pausava o filme, muitas vezes, para experimentar as duas sensações que nos ocorriam: liberdade e poder. Qualquer pequeno desejo de um gole d’água ou uma rápida visita ao banheiro nos entregava esta liberdade de escolha. E também o poder de fazer parar o filme para me esperar.
Observe a importância que este pequeno luxo ainda carrega. Os videocassetes se foram, passamos pelos DVD’s e blue-rays e hoje (e apenas por enquanto) estamos conectados nas plataformas de streaming de vídeo, assistindo nossos filmes em nossos colos, pelos aparelhos celulares, tablets, ou em nossas smart tvs.
E ele, o pause, segue firme à nossa disposição.
A relação com a vida real
Seja nos velhos aparelhos, nas mais modernas plataformas digitais ou mesmo em nossas vidas, precisamos reconhecer a importância de nossa necessidade e possibilidade de pausar. Perceba que existe uma infinidade de modalidades de pausas em quase tudo aquilo a que nos dedicamos.
Há sempre um intervalo nas modalidades esportivas, nas escolas: os “recreios”, nos turnos de trabalho: a hora do almoço, nos nossos dias: as noites, nas nossas semanas: os domingos, nas viagens: as paradas. Há sempre um espaço de tempo para pausar. Seja para o que for. ‘
Pausas nos filmes, pausas nas músicas, pausas nos esportes, nas viagens e ao longo do dia. Pausas no lazer para cuidar da vida e pausas na vida para cuidar do lazer. A ideia principal é tirarmos um tempo intermediário de retomada de fôlego, reajuste da energia, desaperto e o encontro do equilíbrio e disposição para retomar e seguir adiante.
Depois da pausa…
Assim como em qualquer exemplo de pausa, depois do estouro da pipoca, de abastecer o carro, de uma noite bem dormida, do intervalo do jogo, da hora do recreio, tudo o que nos espera é o melhor: o desfecho do filme, a chegada ao destino, o amanhecer de um novo dia, o completar de uma partida e a sensação do dever cumprido.
Assim desejo que seja sua pausa neste final de ano. Não algo para interromper o que estava a ser construído, mas que seja, como nos velhos videocassetes, uma pequena pausa em nossos filmes, apenas suficiente para, cuidando de nós, voltarmos melhores.
Vamos lá… Aperte o pause!