Vamos pensar juntos?
Ano novo. Vida nova.
A cada ano que se inicia somos tomados por desejos renovados de mudanças, transformações, desejos recém-chegados, busca por crescimento pessoal, profissional e financeiro. Esta é uma característica humana muito saudável que se aflora ainda mais neste período.
Para cada um desses projetos, uma estratégia igualmente nova. Não é possível atingir resultados diferentes a partir da adoção de práticas iguais. O mesmo caminho só pode nos levar aos mesmos lugares. Um exemplo bastante ilustrativo é o desejo de perder peso: para isso é necessário mudar nossos hábitos alimentares e nossas atividades corporais.
Poderíamos mencionar uma infinidade de exemplos semelhantes que confirmam a premissa de que as mudanças devem sempre ser precedidas de uma alteração imediata de nossas posturas. A inércia não é uma opção para os educadores interessados.
Quando o assunto é escolha de materiais para as crianças isso não é diferente. Tudo o que desejamos de melhor para o ano letivo que se inicia está ligado diretamente àquilo que escolhemos de material a ser ofertado às nossas crianças.
O brincar como aprendizagem
Se acreditamos verdadeiramente que o ato de brincar é uma poderosa estratégia de aprendizagem, então é preciso reconhecer que o brinquedo é uma ferramenta. Não necessariamente aqueles pré-concebidos e com finalidade específica. Vale lembrar que a criatividade e a curiosidade das crianças podem transformar sua forma de ver os objetos.
E vai além. Também os espaços podem ser vistos como possibilidade de brincar a partir daquilo que disponibiliza. Concebê-los a partir de nossa concepção de infância de forma a torná-los ricos em ofertas de brincar pode ser uma excelente experiência.
Vale dizer que a construção do espaço e a oferta de materiais precisa ultrapassar a questão meramente estética (que tem sua importância e merece atenção), para alcançar um bom nível de liberdade no brincar. Este brincar livre é que valoriza a força criativa da criança e eleva a qualidade das aprendizagens: do corpo, da mente e das relações interpessoais.
A intencionalidade como critério
As boas escolhas dos materiais oferecidos devem passar obrigatoriamente pelo conhecimento profundo de nossa intencionalidade pedagógica. Nossas escolhas precisam se diferenciar daquelas dos espaços de brincar encontrados em shopping centers e condomínios, cujo objetivo é apenas entreter e distrair.
Sendo assim, para cada objeto adotado há de haver uma intenção específica. Isso nos possibilita um desapego aos materiais pré-concebidos e nos abre uma infinidade de possibilidades naqueles considerados não estruturados.
Nossa intenção é ir além de uma lista de sugestões, como recicláveis, retalhos, embalagens e eletrônicos em desuso. Queremos estimular, igualmente, a criatividade e a inovação dos educadores, especialmente para os materiais desta natureza que sejam parte do cotidiano das comunidades em que vivem. Assim, é possível o aproveitamento dos itens que façam parte da convivência diária das crianças em seu “habitat” natural.
Sempre buscando uma relação de intenção entre o objeto escolhido e o objetivo pedagógico desejado, sem deixar de lado os inusitados e aleatórios, sobre os quais a criatividade possa navegar em busca de novas descobertas.
Natureza como fonte
Questões como a importância do contato direto com os elementos da natureza precisam também ser lembradas. Desde o exercício da ancestralidade, das questões motoras e sensoriais, até mesmo os princípios de respeito e preservação da natureza estão diretamente ligados a este contato direto.
Gravetos, folhas de árvores, flores, pequenos seres vivos fazem parte deste rico universo natural. Quando a criança estabelece uma relação de proximidade e intimidade com os elementos naturais, ela se reconhece parte do todo, cria um vínculo de afeto e respeito, além de experimentar sensações (táteis, olfativas, visuais, auditivas), observar as transformações e compreender as interações.
Ampliar ou dar transparência às paredes da escola não significa especificamente promover uma reforma de suas instalações. Isso pode ser conseguido por intermédio de nossas condutas e posturas mais “libertadoras”. Aproveitar melhor nossos quintais, parques e pátios, permitindo mais tempo de permanência, de contato e contemplação dos materiais de maior grandeza como o sol, o céu e as nuvens são uma forma de ampliação de nossas escolas e, consequentemente, de nossas possibilidades.
A higiene é muito bem-vinda, mas nem tudo que está no chão é digno de ser varrido. Fique de olho!!
Questione-se, sempre
Que educador desejo ser? Que escola quero oferecer? Quais as aprendizagens que desejo estimular?
O educador interessado não pode repousar na inércia. Precisamos estar sempre conectados a algum incômodo, para que nosso desejo de estudar e se aprofundar sejam renovados constantemente.
Porque a escolha dos materiais passa pela qualidade de nosso material humano, nosso conhecimento e nosso desejo de contribuir para uma educação melhor para todos.