Quem são os educadores, afinal?
Alfabetização, operações básicas, não morder o colega, façam uma fila? É isso que nos define e nos identifica como educadores? Sabemos que não. Mas o quanto estamos dispostos a nos posicionar como parte vibrante e ativa da construção de saberes e compartilhamento de conhecimentos?
Existe um espaço de possibilidades muito grande entre o momento que somos apenas um colo afetivo e aquele em que reconhecemos a criança como um ser único, rico e detentor de direitos, que inclui sua formação de forma completa.
Dentro desta complexidade que a educação nos exige, em cada educador há uma gama de outras entregas que nos são possíveis. Ora somos pais e mães, ora somos observadores, ora redatores. Noutro momento somos aqueles que precisam entregar o conteúdo programático, por vezes somos conselheiros ou ouvintes.
Por que não estamos prontos, nunca?
A comodidade e a estagnação não fazem parte de nossas vidas. Porque não somos os trabalhadores de uma linha de produção, onde existem fórmulas ou receitas para alcançarmos um produto igual, ou ao menos sempre muito parecido.
Nossa matéria prima são pessoas, crianças e jovens. Eles têm suas estruturas particulares e únicas e, portanto, não há uma uniformidade de ingredientes para sua elaboração. É por isso que nunca estamos prontos. Há sempre espaço para adicionarmos mais e mais saberes em nossas ofertas. Porque a mesma criança pode ser um inédito a cada novo dia.
Devemos estar prontos, mas não no sentido de estarmos terminados. Prontos para o novo, sempre.
De quais fontes devemos beber?
Terá sido suficiente nosso curso universitário para nos preparar para os cotidianos de nossas escolas? Alguém se sente completo e seguro para o enfrentamento desses inéditos a que nos referimos apenas com nosso conhecimento metódico sobre educação?
Quem nunca se deparou com uma ou mais situações em que não sabíamos o que fazer ou como agir, como falar ou silenciar? E não se trata aqui de formar juízo de valor sobre nossas virtudes e nossos esforços, muito menos de delinear uma escala entre professores muito preparados ou ainda em construção. Educadores são seres em constante movimento de forma e reforma.
Eis aqui aquilo que nos engrandece. Nossa consciência de que necessitamos crescer, evoluir, e compartilhar. De estarmos abertos a tudo aquilo que diz respeito à construção dos seres humanos de forma completa. Ou seja, há muito a ser explorado.
“A matéria da arte é a vida.
A matéria da educação é a vida.
A matéria da matéria é a vida”.
A arte de educar onde há arte
Dentre estas tantas possibilidades de abordagem, a arte possivelmente seja a que mais se aproxima da inteireza das crianças. Naturalmente curiosas e investigativas, elas são produtoras de infinitas manifestações artísticas, vindas de suas formas ímpares de expressão.
Claro que não é necessário que sejamos também detentores de dotes artísticos em suas infinitas modalidades. Mas é certo que não podemos nos furtar de uma aproximação com estes movimentos. Porque como muito bem disse a educadora e artista plástica Stela Barbieri, a matéria da arte é a vida.
E o que vivenciamos em nossos cotidianos escolares nada mais é do que a própria vida em suas infinitas possibilidades. Tudo o que nosso trabalho expira e inspira exala os odores da vida real. De pessoas reais, seus saberes reais, suas angústias reais. A arte é real.
Educadores são artistas, afinal
Estamos no palco da vida e da educação, cantando e dançando para nossas crianças, pintando e bordando com elas, aprendendo e ensinando, representando com maestria nosso papel de protagonizar e ser um excelente parceiro protagonista junto às crianças. A cada novo dia, o abrir das cortinas revelará um novo espetáculo.
É preciso que haja vigor em nossos papéis, que haja poesia em nossas escritas, que haja deslumbramento em nossos olhos, que exale música de nossas falas. E que tudo tenha graça, aquela que surge da alegria do saber, do descobrir, do inventar e do conhecer.
Portanto, não se permita distrair. Não se afaste dos livros, dos quadros, da música, da dança, das cores e texturas. Descubra ou se reencontre na intimidade de suas palavras, desenhe, jogue as cores que desejar em seus papéis. Cante em voz alta. Se permita estar em estado de arte, de graça.
Porque cada criança que cantar suas cantigas, dançar suas danças, pintar, rabiscar ou colorir seus desenhos, que moldar suas massinhas e argilas, estará nelas um pouco de você. A arte de permanecer em suas memórias.
Este sim. Será um grande aplauso!