O quintal: espaço de vida
Assim como no final dos anos 60, quando o homem se viu capaz de por seus pés na lua e a humanidade pôde acompanhar o fato com tanta alegria e euforia, pela descoberta de novos horizontes, novas conquistas e a abertura da possibilidade de novos sonhos e realizações, é que observamos a relação da criança com seu quintal. Alguns enormes e arborizados, outros menores, cimentados, gramados, cobertos ou não. Todos eles, e cada um com suas ofertas.
Fato é que o quintal de casa (ou qualquer espaço de brincar) oferece à criança as primeiras sensações da diversão por conta própria. O contato com a gravidade e as habilidades que ela lhe vai exigir. A temperatura e a textura do piso, o movimento que a liberdade permite tanto à criança quanto aos seus brinquedos. Empurrar o carrinho ou chutar a bola passam a compor seu corpo, fazendo com que sinta e conheça a reação dos objetos frente a sua ação corporal, e passe gradativamente a controlá-las.
É bastante interessante observar o quanto o chão impõe sua atração à criança. Cavar buracos, sentar-se curvado e cabisbaixo buscando os detalhes que são ofertados, desde pequenos insetos até as pedras, que a imaginação sempre ousa fazer preciosas. Ao descer do colo dos pais, onde se sente parte, a criança que vai ao chão passa a frequentar o colo da natureza, o colo do planeta e do Universo. Ela é acolhida pelo calor e o conforto do sol, se refresca e se banha na chuva, se lambuza do pó da terra e passa a fazer parte dela também.
No chão ela exercita a firmeza de seus pés e dá vazão à sua imaginação, construindo suas “casinhas”, suas “fazendinhas”, seus “forte-apaches”. Seus heróis se movimentam ao seu comando, suas bonecas e carros ganham vida. Brincar passa a ser seu momento de independência e controle, e permite a exploração tanto do ambiente quanto de si mesma quando transforma o chão numa “casinha de boneca”, num “hospital” ou num “campinho de futebol”, para que elas se sintam respectivamente: “pais”, “médicos” ou “atletas”.
No quintal até voar é possível. Basta que o correr tome conta do corpo e os braços se abram em asas, a ponto de o vento soprar a assanhar os cabelos. É assim que o sonho é capaz de existir no real. Com pés e mãos no chão.