Em alguma medida todos sabemos algo sobre Emmi Pikler. Mas se não, sempre é tempo de conhecer um pouco mais sobre esta pediatra húngara, que no período da necessária reconstrução da Europa dos efeitos da segunda grande guerra mundial, desenvolveu uma abordagem destinada às crianças, especialmente na primeira infância.
Sua filosofia se baseia no cuidado e no aprendizado tendo como ferramentas principais: a saúde física, o afeto, respeito às individualidades e à autonomia das crianças, com a menor interferência possível por parte do cuidador.
Seu experimento teórico tomou vulto quando do nascimento de seu filho, assim teve a possibilidade de ações práticas que evidentemente confirmaram suas teses. Desta forma, suas práticas são adotadas em uma infinidade de escolas por todo o mundo.
Mas não apenas as questões procedimentais formam o legado de Emmi Pikler. Sua abordagem contém uma riqueza imensa de fatores, dentre eles, a construção dos espaços e seus mobiliários muito peculiares.
A partir da premissa de que a criança precisa construir seu desenvolvimento com autonomia, a liberdade passa a ser peça chave na idealização dos espaços infantis.
A importância do planejamento de espaços livres
Um dos mais importantes direitos dos seres humanos é a sua liberdade. É a partir dela que podemos construir nossos desejos, nossos sonhos, exercer nosso imaginário e arregimentar robustez para todas as realizações.
Isso não é diferente para as crianças. Ofertar espaços onde a sua liberdade seja respeitada e onde ela possa movimentar seu corpo a partir de sua própria iniciativa e sob seu próprio ritmo é que vão garantir o desenvolvimento adequado de suas funções motoras e sua autoconfiança.
Tudo isso sem afastar-se dos cuidados absolutos com sua segurança. Pisos firmes onde encontrem conforto e confiança para a verticalidade dos corpos e sua manutenção em posição ereta, bem como aqueles com temperaturas e texturas agradáveis ao toque são os que melhor se adequam. Os de madeira são os que mais se aproximam do ideal.
Mobiliário seguro
Imagens cedidas pelo Ateliê Quero Quero – Instagram: @atelie_quero_quero
Se estamos a falar de ambientes onde as crianças têm liberdade, sua segurança precisa da mesma forma estar garantida. Isto porque a liberdade ofertada vem sucedida de exploração e por consequência, os móveis farão parte da movimentação dos corpos.
Eles serão escalados, servirão de apoio, suporte, certamente serão empurrados e arrastados. Desta forma, a recomendação é de que sejam fixos (sem rodinhas), com cantos arredondados, com acabamento liso e livre de sulcos ou farpas.
A ideia central é a de que a criança se sinta estimulada a alcançar seus brinquedos e busque pelos movimentos necessários para chegar até ele. Por isso são bastante frequentes em ambientes “Pikler” as conhecidas estantes baixas.
O contato com o ar livre
É fato que nós, seres humanos somos parte da natureza, e sempre que possível buscamos contato com seus elementos. Ar fresco, sol, o contato direto com o chão fazem parte de nossa construção ancestral.
A abordagem Emmi Pikler recomenda que espaços ao ar livre também estejam disponibilizados, inclusive para aquele soninho da tarde. Tanques de areia, escadas, pisos inclinados onde possam escorregar, estruturas onde seja possível entrar e sair.
Seguindo sempre o ideal de entregar autonomia à criança a partir de suas próprias iniciativas, sem deixar de lado sua segurança para o brincar livre.
Brinquedos de madeira: áreas internas e externas
Lembremos que a abordagem Pikler se destina às crianças de primeiríssima infância, portanto seus brinquedos devem servir ao ensinamento a partir de sua exploração espontânea, e não sua mera distração.
Assim, eles devem estar prontos para serem explorados tanto nas áreas internas como nas externas, já que a oferta de liberdade não se restringe a este ou aquele ambiente. Confeccionados preferencialmente em madeira, podemos destacar alguns bastante comuns:– Circuitos de obstáculos: são brinquedos que estimulam o equilíbrio e as funções motoras através do acesso corporal. Podem ser triângulos, arcos ou rampas onde os pequenos podem subir, descer e explorar.
– Túnel Pikler: espécie de pequenos labirintos formados por cubos independentes garantindo variedade de formatos, onde as crianças ganham autonomia e confiança quando, explorando, são capazes de encontrar sua saída. São construídos geralmente com barras de madeira bastante espaçadas de forma a permitir ampla visão interna.
– Barco de balanço: pequeno balanço em formato gangorra, capaz de acomodar quatro crianças, sendo duas de cada lado. Seu diferencial está na possibilidade de uso de uso de cabeça para baixo, de forma a adquirir outro conceito como escada ou rampa.
– Triângulo Pikler: pequena escada dupla, construída em 90 graus, onde se desenvolve a força física, agilidade e equilíbrio durante sua exploração.
– Gangorra Pikler: Também conhecido por “arco Pikler”. Construído em formato de “meia lua”, permite tanto o balançar compartilhado como a exploração individual, divertido e possibilita sensações espaciais.
– Ponte Pikler: pequenas elevações com acessos por degraus roliços ou rampas, proporcionam autonomia e equilíbrio.
Como já mencionado, o objetivo central desta variedade de mobiliário é entregar liberdade e autonomia com o maior índice de segurança e cuidados possível. Aproximar o brincar do aprender de forma autônoma e livre.
Desta forma, a criança se desenvolve com segurança e independência, contribuindo muito positivamente na forma dela se relacionar consigo mesma e com seus semelhantes. Vale dizer que a indústria de mobiliário infantil vem cada vez mais se inspirando na abordagem Pikler, quer pela segurança, quer pela qualidade de aprendizagem que o modelo proporciona.
Afeto, ludicidade, segurança e cuidado juntos, em favor da infância.