Uma metodologia muito ativa
O nome remete ao verbo “fazer”em inglês: “to make”. Numa tradução livre, poderíamos falar que se trata de “fazedor”. Partindo desta premissa, fica mais fácil a compreensão do que é a educação “maker”, e como ela pode contribuir para o ensino/aprendizagem, em especial na educação infantil e no ensino fundamental. Colocar as crianças para, literalmente, fazer.
Esta prática fica mais vigorosa quando aplicada nas instituições em que a aprendizagem se baseia em projetos, mas é possível utilizá-la também a partir de outras modalidades, como livros didáticos, materiais apostilados, ou qualquer outra.
O conceito central da educação “maker” é promover uma experiência “mão na massa”. Entregar às crianças a possibilidade da execução prática das temáticas a serem desenvolvidas, com uso de materiais diversificados, e com a carga máxima de sua criatividade.
Movidos pela curiosidade, que é elemento presente nos seres humanos, e ainda muito mais vigoroso nas crianças e jovens, a educação “maker” promove a possibilidade de encontrar soluções criativas para os problemas apresentados.
Como nasceu a cultura “maker”?
Com o advento das ideias mais libertárias que surgiram na década de 60, surge a filosofia “do it yourself”, ou “faça você mesmo”. O conceito carrega a premissa de que qualquer pessoa pode construir, consertar ou criar seus próprios objetos com uso de suas habilidades profissionais, artísticas, criativas e inventivas, afastando-se das soluções industriais.
Isso ganhou muita força a partir da revolução digital, onde o acesso à informação, a possibilidade de troca de ideias aliados aos recursos tecnológicos. Desta forma, é possível que as pessoas transformem em realidade suas ideias, desenvolvendo suas próprias tecnologias e ferramentas, e encontrem com isso uma satisfação pessoal bastante significativa.
A educação “maker”e a sustentabilidade
Dois excelentes aliados. Se o conceito permite o exercício da criatividade, da invenção, da inovação, porque não fazer isso a partir de materiais reciclados, reaproveitados, transformados, e com os olhos na preservação da natureza?
Objetos flutuantes construídos a partir de garrafas pet vazias e tampadas, suportes dos mais diversos produzidos a partir de pés de mesas ou cadeiras já gastas pelo tempo, desde caixas de fósforo até as que embalam geladeiras se transformam em invólucros de qualquer necessidade, são alguns exemplos de reutilização de materiais.
Já as lâmpadas de “led”, que se alimentam de baixa voltagem e consumo, proporcionam uma excelente experiência de iluminação, com baixo risco. Placas fotovoltaicas que geram energia a partir da luz solar, e atualmente já tem custo relativamente baixo, eliminam a questão ambiental do descarte de pilhas e baterias. Estes representam os avanços tecnológicos que estão disponíveis à cultura “maker” e que colaboram com a sustentabilidade.
Caminhando juntas, inovação, criatividade, pró-atividade, e sustentabilidade traz às crianças uma ligação de respeito e cuidado com o meio ambiente, conscientizando-as da importância da preservação e manutenção dos recursos naturais.
A cultura “maker” no cotidiano
Nós, brasileiros, somos considerados (e com razão), um dos povos mais criativos e inventivos do mundo. A expressão “jeitinho brasileiro” foi cunhada sob medida para nós. A partir desta nossa característica tão peculiar, em nossos lares a cultura “maker” já está implantada e em perfeito funcionamento. Somos aqueles que apertam parafusos com pontas de facas ou colheres, abrimos nossas garrafas de vinho com parafusos, e estes exemplos não têm fim. Vale lembrar os cuidados para que não ultrapassemos para o campo da “gambiarra”, a cultura já está em nós.
Para nossas escolas, existe a possibilidade da criação dos laboratórios “maker”, onde se pode disponibilizar materiais, ambientes seguros e confortáveis, informação e espaço para que os projetos criados sejam desenvolvidos com liberdade e segurança.
Incentivando atividades como carpintaria, marcenaria, alvenaria, colagem, dentre outras, a escola o papel do lugar transformador, propicia uma rica integração entre os conceitos teóricos e a experiência prática, alimenta funções motoras e intelectuais, estimula a sociabilidade e, muito especialmente, dá voz e escuta às crianças e as possibilita ocuparem o lugar de protagonismo tão desejado.
Tecnicamente, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), quando apresenta a diretriz que estimula a utilização dos campos de experiência para a educação infantil, está dizendo seu “sim” para a implantação da cultura “maker”. Isto porque, a partir dos campos de experiência, a liberdade criativa e inventiva assume o comando das ações, com direcionamento e a supervisão preparada e cuidadosa dos educadores.
Fato é que a cultura “maker” aparentemente não é algo sazonal ou passageiro. Seus resultados na estimulação da criatividade, no desenvolvimento de autonomia, de processamento de potências originais, do aproveitamento das competências, na formação de pensamento crítico, sociabilização, da construção de autoconfiança, das funções motoras, da empatia, trazem uma riqueza sem fim a esta modalidade de metodologia ativa.
A nós, educadores cabe inicialmente experimentar… Que tal sermos “makers” também?