__ “Oi! Vamos brincar?”
Quando foi que você disse esta frase pela última vez?
É possível que não tenhamos mais essa lembrança tão exata do momento em que a pronunciamos em nossa infância. Até mesmo porque hoje somos mães, pais e avós e possivelmente ela tenha sido repetida com nossos filhos e netos.
Mas esta frase diz muito mais sobre as crianças do que propriamente o simples desejo de brincar. Mas para que este artigo faça sentido sugiro que façamos um exercício de retomada de nossa própria infância.
Uma lembrança
Vamos buscar no baú de nossas lembranças aquele item que remeta você imediatamente à sua própria infância. Quem sabe seja uma boneca, um “paninho”, um triciclo ou um ioiô. O importante é que seja o primeiro brinquedo que seja capaz de “escavar” em seu passado, para que você retome sua mais remota infância. Vamos tentar?
Feche seus olhos por alguns segundos e pause a leitura… Nós esperaremos aqui.
Memória e afeto
Pegou seu brinquedo? Siga imaginando-se com ele em suas mãos e entregue à memória de suas sensações… texturas, cores, cheiros, alegrias e saudades…. Este brinquedo fez parte da criança que você foi um dia e, ainda que ele não exista mais, ele é parte daquilo que você se tornou.
Não é possível falarmos das crianças sem que falemos de brincadeiras. A infância é o verbo brincar conjugado no infinitivo e infinitamente. Muito de nossas construções sociais, cognitivas, afetivas e até as físicas passou por nosso brincar.
Mesmo nossas pequenas frustrações foram capazes de, por intermédio da dor experimentada, fazer a edificação de nossa capacidade de enfrentar as dificuldades. Se podemos nos recordar dos momentos difíceis, é certo que podemos retomar também os felizes e prazerosos.
Ainda está segurando seu brinquedo? Então chame em voz alta aquele (a) amigo (a) que você tanto gostava de brincar. Lembra o nome dele (a)? Então vá buscá-lo também dentro de suas recordações.
Porque as melhores brincadeiras se dão em conjunto e as crianças são especialistas em convívio e convivência. Elas se identificam entre si de forma singela e pura, não se importando com absolutamente nada que não seja unicamente o “ser criança”.
Brinque um pouco… brinque o quanto quiser!
Nossas crianças
Nesta semana em que reverenciamos a criança, as de hoje e as de sempre, queremos fazer este convite que escapa um pouco da compra de presentes, de passeios especiais, de jantares comemorativos. Tudo é válido, mas desejamos ir com vocês a outro lugar.
A proposta é que brinquemos um pouco mais, mesmo que apenas em lembrança. Passa-anel, pula-corda, mãe-da-rua, casinha ou carrinho. Corridas, amarelinha, pião, bicicleta. Não importa. Apenas retome a alegria do brincar, porque a criança que você foi está exatamente ali, esperando para isto.
E para que as crianças que estão hoje sob nossos olhos tenham suas infâncias preservadas das armadilhas do crescimento precoce. Permita que brinquem de forma livre e autônoma, que se encontrem em grupos, que combinem as regras entre si e se entendam. Não para que amadureçam, mas para que se aprofundem na criança que são.
Não tenhamos pressa de ensiná-los, eles aprenderão em seus ritmos e seus tempos, assim como podemos dar qualidade aos pães de fermentação natural, agregando-lhes sabor. Assim é a infância… Espere… Deixe que ela dirija seus tempos. Permita-lhe agregar sabor.
Assim podemos garantir que lá adiante ela possa fechar os olhos, retomar seu brinquedo em suas mãos, chamar em voz alta por seu melhor amigo e repetir felizes, como fizemos hoje:
“Oi… Vamos brincar?”