Liderança inspiradora, servidora, carismática, democrática, técnica, liberal, autoritária, visionária, burocrática, colaborativa, transcultural, alquimista, oportunista, diplomática, facilitadora, transacional, estratégica, situacional, criativa, comportamental, informal, compartilhada… a lista dos tipos de líderes é imensa, tão longa quanto a busca inglória por traduzir em palavras as competências humanas necessárias para guiar pessoas e jornadas.
Tantos epítetos assim acabam por esvaziar o sentido de algo tão difícil de nomear – talvez porque as funções variem conforme os contextos, os tempos, os autores. Mas servem, nesta introdução, para refletir sobre o belo e insubstituível desafio de um profissional essencial para a educação – o coordenador. O que é liderar, do ponto de vista de um coordenador?
Escolas muitas vezes são ambientes autoritários e hierárquicos, um lugar de mandar e obedecer, cobrar resultados sem dar condições, falar muito e ouvir pouco, com discursos que se distanciam da prática. O ideal de uma gestão democrática está ainda muito longe de se traduzir em uma sincera cultura escolar.
Por isso, no intermezzo das relações profissionais em uma escola, o lugar do coordenador talvez seja justamente o de desmistificar e humanizar o espaço da liderança. Em tempos em que tantos apontam o dedo para a gestão como o fator mais decisivo para o sucesso de um projeto educativo (o que quer que signifiquem as palavras sucesso, projeto e educativo), o coordenador é um ponto de encontro, de negociação – no melhor sentido do termo –, de diálogo, de organização, de sustentação de um corpo de princípios e valores.
Coordenar é ordenar junto, organizar de forma colaborativa, e isso já diz muito. O coordenador é o profissional que se movimenta entre o campo administrativo, das rotinas, das regras, dos planejamentos e das decisões já tomadas, e o campo pedagógico real, dos professores e estudantes, da sala de aula, do fazer acontecer no mundo pulsante da educação, como uma membrana viva e permeável, essencial para mediar o equilíbrio entre dois fluidos de substância e concentração próprias.
Vale a pena aproximar a lupa para uma ideia, em particular. Em que se assenta o poder de fato (também, no melhor sentido) do coordenador? Ou seja, como ele pode lograr conduzir, inspirar, mobilizar, facilitar, ou seja, cumprir a ação que dele se espera? Pois não se trata apenas de organizar o que está pronto, mas semear no dia de hoje as sementes do amanhã. Em uma palavra: estamos falando de formação.
Formar não é trazer pilhas de leituras obrigatórias, chamar palestrantes, mas entender que, no ambiente escolar, aprender junto, refletir com, são também processos conduzidos pela gestão pedagógica.
Liderar a formação da equipe educativa é hoje uma das mais importantes funções da coordenação. É preciso motivar as pessoas para que estudem, sim, mas também é necessário ajudá-las para que não caiam em formações erráticas, justapondo frases e conceitos pinçados fora de seu contexto, como se fosse possível ter um agregador de autores. Há de haver coerência no corpo de referências conceituais e nos valores de uma escola, por mais diversas que sejam, e essas referências precisam estar em diálogo com as práticas de sala de aula.
Por isso, é crucial que se proporcione aos educadores a oportunidade de pensar sobre os problemas reais, cotidianos, iluminando-os com leituras, estudos, reflexões, autores e livros, em um movimento contínuo e planejado entre teoria e prática.
No mundo da coordenação pedagógica, formar é um modo gentil e humanizado de liderar. Os professores podem ver no coordenador um bom organizador da ação pedagógica – o que já é muito, diga-se –, mas vão segui-lo até o fim quanto mais souber representar um ponto de luz na jornada do educador pelo nevoeiro de uma escola em transformação.