Você se lembra de quem é o “terceiro educador”?
Assim como se reconhece a importância dos espaços ambientados na construção de aprendizagens e de melhor aproveitamento das potencialidades e individualidades das crianças, e da construção das relações interpessoais e sociais, também podemos identificar como absolutamente válida a participação dos ambientes nos processos de alfabetização.
A partir das possibilidades ofertadas pelos ambientes, desde que planejados por educadores também potentes e atentos, maiores serão as aproximações das crianças com os recursos nele contidos e, por consequência, o desenvolvimento voluntário de práticas e vivências que evidenciem e favoreçam a alfabetização.
Mas acredite, não se trata de espalhar cartazes e fichas com as letras e nomes próprios pelas paredes da escola e estará construído um ambiente alfabetizador. É necessário partirmos do princípio de que a criança é sujeito ativo em suas aprendizagens para permitirmos sua mais completa interação com o ambiente. É preciso fazer sentido.
Ler e escrever como prática cotidiana
Ainda antes do pensamento na elaboração física do ambiente, é importante refletir no conceito imaterial da prática. O convívio com a escrita e a leitura em movimentos diários agrega interesse, importância e desenvolvimento no próprio processo.
Seja para apropriar-se das primeiras letras ou, ainda mais adiante siga se aproximando da escrita do próprio nome ou de seus colegas, a interação reiterada é quem vai garantir o protagonismo da criança em seus processos de aprendizagem e construção de conhecimento.
A partir do momento em que é dado o “start” neste interesse legítimo e genuíno de aproximação com os processos de alfabetização, a criança passa a comparar sons e grafemas, inicia reflexões sobre a escrita e passa a utilizar modelos de escrita de novas palavras que serão agregadas aos contextos.
A importância das ações participativas
Outro importante pilar na construção de ambientes alfabetizadores é fazer com que haja interação direta das crianças com quaisquer que sejam as ações propostas. Para que as letras, números ou as escritas expostas de alguma forma sejam acessíveis em propostas que façam sentido em suas vivências.
Fotos: Escola Semear
Vamos elencar algumas dicas que podem inspirar nossa criatividade:
- Que tal construir um varal de letras e números, em altura que permita o manuseio livre pelas crianças para que alterem a partir de seus interesses?
- E o que acha de fazer uso de calendários para aproximação deles com os números e com o conceito do correr dos dias? Bem como com a escrita estável dos dias da semana e mês vigente.
- Já pensou em deixar com que façam a lista de presença permitindo a escrita de seus próprios nomes e o contato com a escrita dos nomes de seus pares?
- Não seria interessante também deixar à disposição encartes de jornais (há jornais especializados em crianças, sabia?), revistas infantis e gibis para que o acesso à leitura ocorra em diferentes suportes?
- Quem sabe também deixar à disposição das crianças os textos que fizeram parte das leituras compartilhadas, para que possam retomar quando desejarem?
- E a elaboração de um chaveiro com palavras escolhidas e consideradas importantes para as crianças? Um chaveiro exclusivo e singular com palavras que carregam sentido e afeto.
- E que tal um painel com as tarefas coletivas fixado em algum ponto visível na sala e fichas móveis para compor a organização diária?
- Cartazes envolvendo o projeto que acompanha a sala no momento também são bem-vindos, sabia? Por exemplo: Se o estudo atual envolve as folhas do jardim, vamos montar um cartaz com o nome das folhas e aproximar as crianças também dessas palavras estáveis? Ou ainda, o projeto tem o foco no espaço? Que tal agregar mais valor ambientando a sua sala com elementos que provoquem investigação e um convite à escrita?
- Que tal preparar uma mesa com diferentes tipos de papéis, canetas, carimbos, cola, envelopes, lápis e deixá-la em um cantinho da sala? Ela é um convite constante ao ato de escrever.
- Imagine então se fizermos todos estes movimentos e ainda acrescentarmos nosso próprio “algo a mais”?
Certamente quando permitimos o acesso facilitado e livre da criança aos materiais, estamos evidenciando as construções de conhecimento e reforçando sua autoestima com a validação daquilo que nos demonstram, à sua maneira.
Importante lembrar: a distribuição e a altura das propostas fixadas nas paredes devem estar de acordo com a altura das crianças. O contato visual e tátil faz parte dessa busca por informações.
Não é só copiar e colar?
Definitivamente não. Sabemos que decorar e imitar podem até ter alguma função no arregimentar de conteúdo. Mas é definitivo, também, que a construção de processos de aquisição de conhecimento precisa passar necessariamente pelas vivências e pelo aproveitamento das situações do cotidiano.
Especialmente para este processo, que sabidamente é dos mais importantes pilares na aquisição de outros saberes, nosso blog já trouxe algumas reflexões como “A alfabetização na construção da vida humana” e “As hipóteses de escrita e a alfabetização” cuja leitura também recomendamos.
A ideia da construção de um ambiente alfabetizador passa pela proatividade preconizada por Jean Piaget e pela pesquisadora argentina Emilia Ferreiro. O ponto central é a possibilidade de entregar à criança: acesso, interação, ação e transformação dos ambientes, promovendo experiências cotidianas de aprendizagem e desenvolvimento.
Se você tem alguma sugestão para compartilhar conosco sobre práticas cotidianas que possam contribuir na formação de um ambiente alfabetizador, coloque aqui abaixo nos comentários colaborando conosco e com todos os nossos leitores.
Como já nos foi ensinado por Ana Teberosky, uma das mais renomadas pesquisadoras sobre o tema, coautora da Psicogênese da Língua Escrita:
“Um ambiente alfabetizador aquele em que há uma cultura letrada, com livros, textos digitais ou em papel, um mundo de escritos que circulam socialmente. A comunidade que usa a todo o momento esses escritos, que faz circular as ideias que eles contêm, é chamada alfabetizadora.”
Vamos fazer circular nossas ideias por aqui?