ACOLHIMENTO ESCOLAR: COMO PROMOVER UMA BOA EXPERIÊNCIA

Mais um ano se inicia e junto com ele uma coleção de novos desafios, novas possibilidades, novas expectativas. Mudam as turmas, trocam as professoras, materiais inéditos, espaços renovados. Tudo pronto e concebido para um funcionamento adequado.

Mas precisamos estar, todos, muito atentos a uma fenda emocional que se abre na criança recém-chegada à escola, ainda que esteja vindo do colo materno, de outra instituição, ou mesmo das férias de um ano cheio de afastamentos das atividades presenciais.

Existe uma sensação de estranhamento e incerteza que invade a criança, as famílias e também os educadores. Isso é absolutamente natural e esperado, mas requer um olhar especialmente afetuoso porque toda a construção das relações tem exatamente neste ponto seu “start”. 

Orientação à família

Assim como nos sentimos confiantes e confortáveis quando viajamos por uma estrada larga, bem pavimentada e sinalizada, também a “porta da escola” pode se consolidar num lugar seguro para todos. Orientação! A criança sente e absorve imediatamente a sensação de medo de seus pais ou familiares, que é a primeira ponte que liga o educador à criança. Estabilidade!

Decisões sobre a postura e os procedimentos da escola neste período devem ser bem comunicadas aos familiares, e de forma clara. O improviso conduz à insegurança e é muito possível que a maior parte dos familiares esteja naturalmente vivendo um momento deste, tanto pela entrega de seu bem mais precioso às mãos dos educadores, quanto pelas próprias dificuldades atuais.

Conhecendo o espaço escolar

Outro ponto de grande sensibilidade na travessia deste período de acolhimento é o espaço escolar. É muito comum a todas as escolas iniciarem o ano com novidades em seus ambientes, vindas de reformas, renovação de materiais, construção de novas salas, etc.

É sempre muito proveitoso que o espaço escolar e suas dependências sejam visitados e conhecidos por todos. Tanto para que as crianças se sintam mais confiantes em sua permanência, quanto para que os familiares que devem sentir-se da mesma maneira.

Vale lembrar que, eventualmente, os olhares das famílias sobre os espaços podem parecer muito mais com uma “vistoria” de agentes de segurança, e isso também deve ser conduzido com muita serenidade e de onde se podem tirar excelentes sugestões. Escuta!   

A importância de uma recepção calorosa dos professores

Aqui reside o ponto central deste momento tão importante de acolhimento, porque estamos a falar da construção de laços afetivos multifacetados. É como se nos preparássemos para tecer uma rede de afetos que deve unir crianças, familiares, professores, coordenadores, diretores, gestores, equipes auxiliares… Todos.

Regras gerais de educação como obrigação social não são suficientes, ainda que muito bem vindas. A boa relação entre a família e a escola é matéria comum defendida pela imensa maioria dos educadores-referência. Sendo assim, o educador precisa estar bem consigo mesmo, convicto de sua escolha de vida, porque há de entregar presença, carinho, bons fluidos, olhares de afeto e, muitas vezes, o próprio colo. 

Assim como o abrir das portas da casa de um amigo querido, quando chegamos, imediatamente identificamos as expressões de alegria satisfação por nos receber, assim recomenda-se seja na escola. Que seja um lugar onde se deseja chegar. Conforto!

Como identificar e acolher os novos sentimentos?

O início ou reinício das aulas é um caldeirão de sentimentos em plena ebulição, e com os mais variados ingredientes. Pais já conhecidos, novos pais, crianças em início da vida escolar, outras vindas de outras instituições, famílias unidas, famílias separadas… A pluralidade e a diversidade de nossa sociedade reunida na frente das escolas.

É preciso que sejamos sensíveis e observadores num primeiro momento, para que seja feita uma identificação personalizada dos sentimentos que nos forem apresentados e, para cada um deles entregarmos nosso melhor pedaço de humanidade. Compreensão!

Choro, silêncio e outras manifestações.

Sejam quais forem as manifestações apresentadas e observadas em tempos de acolhimento precisam ser compreendidas e para cada uma delas, uma reação adequada e serena. Para muitas crianças e pais este período representa o rompimento de um laço familiar para a construção de um laço escolar, apesar de não ser mesmo verdade, pois cada vez mais nos fica claro o quanto família e escola são essenciais neste processo. 

A condução do período de acolhimento deve se dar de forma a promover a sensação de unidade, para que a criança e as famílias sintam que não há rompimentos a serem experimentados, mas novas construções relacionais a serem edificadas em conjunto.

Mas até que isso seja efetivamente alcançado, a criança precisa ter respeitado seu tempo de maturação destas novas experiências bem como de suas formas peculiares de reagir aos novos desafios. Alguns apresentam choros contidos e mais sentimentais, outros podem gritar e fazer usar a linguagem corporal como meio de expressão, ou ainda fecharem-se em seus silêncios. São os primeiros exercícios de direito de livre manifestação. Respeito!

A construção do vínculo

Se estamos a tratar de construção de vínculos humanos, obrigatoriamente estamos a falar de afeto, carinho e amor. Amor à criança, amor à educação, amor ao nobre ofício de educar. Sendo assim, os bons sentimentos devem ser sempre os norteadores de nossas construções afetivas. A partir deles, as palavras em exclamação adicionadas a este texto.

Quanto tempo leva esta construção? Alguma coisa entre uma fração de segundo e a vida toda. O principal é estarmos preparados, abertos e prontos para reiniciá-la a cada dia, a cada reencontro, e de forma única e exclusiva para cada criança, cada pai, cada mãe, cada avó e avô, cada madrinha, cada um. Todos.

Diálogo aberto

Comunicação! Vivemos em tempos em que nossas vozes encontram espaço de publicidade. A comunicação está entranhada em nossas vidas, e isso é muito bom. 

Sendo assim, não há mais espaço para dúvidas constantes. A relação de confiança a ser estabelecida entre escola-pais-crianças deve ser regada a diálogos abertos em duas mãos de direção. É importante ouvir e ser ouvido e ter sempre em mente que somos todos coadjuvantes de uma história em que a protagonista deve ser sempre a criança e a infância.