“Nossa….errei…”
A não ser que você se considere uma espécie de divindade, certamente esta frase já lhe saiu da boca ou estampou seus pensamentos um cem número de vezes. O erro é parte da condição da imperfeição humana e convivemos com ele desde os primórdios de nossa existência.
Toda a construção da evolução de nossa espécie passa, obrigatoriamente, pelos erros vindos de nossa imperfeição, de nossas avaliações equivocadas acerca de algum assunto, e por outras vezes, de nossas próprias escolhas.
Sendo assim, na mesma proporção em que nos orgulhamos de nossos acertos, devemos respeitar e tirar proveito de nossos erros tanto para que nos tornemos seres humanos melhores, quanto para que o mundo se torne a cada dia um lugar melhor para se viver.
É com este espírito que devemos conduzir nossa relação com o erro. E não apenas nossos próprios erros, é preciso refletir muito sobre os erros de nossos semelhantes e buscar compreender os motivos de seu cometimento. E na medida de nossa imperfeição, perdoá-los.
Mas e nos ambientes escolares? Como conduzir o erro de forma acertada? O que o erro nos informa acerca de nossas próprias condutas e escolhas? O quanto de nosso próprio erro está presente no erro de nossas crianças?
Refletir sobre o assunto é o caminho. Porque para tratarmos do erro, não há certo ou errado.
Erros são todos iguais?
É interessante dividirmos os erros em duas modalidades. Este conceito deriva do pensamento jurídico que classifica os erros como: “formal” e “material”. Óbvio que nosso objetivo nesta matéria é trazer reflexões para o ambiente escolar, entretanto esta classificação pode colaborar em nossa compreensão.
O erro formal é aquele que surge de uma escolha equivocada, porém, consciente. É o erro em sua forma, em sua estrutura. Por exemplo: escolher como 5 a resposta para a soma 2+2. Já o erro material é aquele que vem de escolha correta, porém com defeito em sua apresentação. Os exemplos mais conhecidos são os erros de digitação ou grafia, onde a escolha foi correta, mas a forma de expressar a resposta contém falhas.
Esta é uma questão muito sensível para os educadores no momento da avaliação, em especial quando se tratar de exames, provas ou testes.
Diante dos erros: avaliar ou ignorar?
Neste ponto específico reside a importância de se ter clareza sobre as modalidades de erros acima descritas. A partir delas é mais clara a reflexão e a opção entre avaliar ou ignorar o erro. Nos processos de avaliação convencional, sabemos que o erro carrega em si um caráter classificatório, na medida em que existe a obrigatoriedade de aferição de notas.
Mas sabemos, também, que existem muitas informações contidas nos erros. Dentre elas, o próprio aprendizado. Existe uma maneira de errar e, mesmo assim, apresentar a absorção do conteúdo, especialmente nos casos de erro material.
Acreditamos que o melhor verbo a ser conjugado neste tema é: “considerar”, já que em alguns casos, é muito tênue a linha entre o certo e o errado.
O que representa o erro no processo de aprendizagem?
É neste ponto que se encontram as representações do erro, tanto para a construção de nossa própria evolução humana quanto para a aquisição e desenvolvimento da aprendizagem propriamente dito. Especialmente por se tratar, antes de tudo, de um processo.
E como em qualquer processo, e de forma muito especial neste caso, estamos a falar de uma infinidade de procedimentos pensados e organizados por uma variedade de pessoas. Portanto, é valido lembrar que a expressão de um erro pode estar muito mais ligada ao processo do que necessariamente a quem o comete.
Seja como for, e do ponto de vista filosófico, muito mais do que considerar o erro como algo indesejado, é de maior valia tratarmos como uma etapa importante do aprendizado porque está intrinsecamente ligado à experiência que acumulamos, todos, ao longo de nossas vidas.
Mas vale destacar um cuidado que se deve dedicar na condução dos erros. A depender do peso que lhe atribuirmos, e de como se darão suas consequências, existe um risco de ferir a autoconfiança e a autoestima das crianças.
A partir do momento que desejamos entregar o protagonismo do processo de aprendizagem à criança, é necessário que compreendamos o erro como elemento essencial na construção dos saberes, tanto para que a experiência dele advinda seja proveitosa, quanto para que nos localizemos como educadores na construção do erro.
Porque o erro é importante no processo de aprendizagem
Partindo da premissa que a aprendizagem representa a própria vida, e que o processo passa pelo ambiente escolar, mas não encontra nele seu início e nem o seu final, o erro é parte de nossa falível condição humana.
Nossa língua portuguesa apresenta uma série de expressões que nos remetem a esta reflexão:
… Vivendo e aprendendo…
… bola pra frente …
… levanta, sacode a poeira …
A importância do erro está na percepção de que ele não é única e exclusivamente a ausência do acerto. Ele é parte integrante do crescimento humano e, por consequência, dos processos de aprendizagem também. É preciso considerá-lo em sua extensão total, e questionar sempre: em que condições o erro foi cometido? Quem o cometeu? Como a informação foi entregue? Por que ela não incorporou ao conhecimento? Onde me encontro no erro do outro?
Caso os processos de avaliação lhe exijam que apenas assinale com um “X” os erros cometidos, ao menos é importante construir dentro de si estes questionamentos. Porque afinal de contas, nem todo acerto é tão absoluto que não caibam dúvidas, nem todo erro é tão vazio que não lhe transborde informação.