A Base Nacional Comum Curricular e sua aproximação com a abordagem de Reggio Emilia

Conheça as principais mudanças trazidas e onde elas se aproximam da “Abordagem Reggiana” 

O que é a Base Nacional Comum Curricular?

A Base Nacional Comum Curricular é um documento que define nortes sobre o conjunto de aprendizagens essenciais que devem estar à disposição das crianças e dos alunos ao longo de suas etapas e modalidades da educação básica.

O que é a abordagem Reggio Emilia?

A abordagem está envolta em uma complexidade de ações e conceitos que seria necessária a escrita de uma enciclopédia para descrever apenas parte de sua vivência.

Entretanto, é possível fazermos alguns pequenos destaques conceituais que podem nortear nossa compreensão sobre esta pedagogia tão inspiradora. Alguns deles são:- A criança considerada como protagonista das ações
– Professor é parceiro, observando e guiando o processo de crescimento das crianças que acompanha.
– O ambiente é considerado um elemento essencial no processo de aprendizagem.
– Desenvolvimento das aprendizagens no coletivo. “Se aprende melhor em companhia”, já disse a professora Julia Formosinho.
Ética, estética e política entendidas como norteadoras de toda e qualquer ação realizada nos espaços coletivos. 
– Criatividade, invenção e imaginação caminham de mãos dadas
 Documentação pensada para valorizar o processo de aprendizagem como um todo.
– A participação da comunidade entendida como valor. 

Quais os conceitos trazidos da BNCC para a educação infantil?

Na construção de suas noções de identidade e subjetividade, a postura e a participação do educador são fundamentais. Veja os conceitos que compõem a BNCC:

1. Cuidar e educar

Verbos que se devem conjugar em conjunto. Tanto o aprendizado pode surgir das próprias ações cuidadoras como as mesmas podem (e devem!) traduzir-se em aprendizado e boas experiências. As práticas cotidianas de socialização, alimentação, higiene, entre outras, são inseridas ao repertório da criança sob as duas óticas: cuidado e aprendizado.

Da mesma forma no que diz respeito aos cuidados com o ambiente disponibilizado. Um espaço rico em possibilidades, organizado de forma provocadora e segura é capaz de entregar à criança um farto aprendizado sobre organização, zelo, higiene e estética. Cuidado e aprendizado disponíveis diariamente. 

2- Formar vínculos

Estreitar os vínculos afetivos entre a criança e o educador é primordial na construção do sentimento de segurança, onde ela desenvolverá sua auto-estima e por consequência, reunirá melhores condições de autonomia e poderá se arriscar em situações que exijam maiores desafios, sejam eles motores ou cognitivos. 

3- Incentivar a autonomia

O educador deve adotar, sempre que possível, uma postura que favoreça o desenvolvimento da autonomia da criança. 

É necessário que encontre a linha tão tênue que está localizada entre o cuidado afetivo e a confiança na execução das tarefas cotidianas.

Permitir à criança, por exemplo, o uso dos talheres para sua alimentação, o subir ou descer de escadas, a higiene pessoal, são algumas das possibilidades de autonomia que se espera que elas alcancem. 

 

4- Reconhecer os diferentes ritmos infantis

É necessário e extremamente importante reconhecer que cada criança, ainda que com idades cronológicas semelhantes, tem seu próprio “timing” na construção de suas aprendizagens. O educador, atento e ativo, deve, ao reconhecer, estabelecer as condições de crescimento de cada criança, de forma a respeitá-la em seus ritmos.

 

5- Escutar ativamente

Uma das mais importantes premissas. Não basta dar voz à criança. Para que se alce a criança à condição de “protagonista”é preciso que sua voz traga ao cotidiano a força de seus desejos, curiosidades e interesses. Conduzir as ações diárias a partir desta escuta, dando efetividade à participação da criança é essencial e deve ser parte da escola que se vive diariamente. 

 

6- Disponibilizar espaços e materiais

Da mesma forma, cabe ao educador escolher e construir espaços e materiais que favoreçam as iniciativas livres das crianças, mas que da mesma forma, ofereçam contextos com a maior riqueza de intencionalidades possível.

Conclusão

Como dito anteriormente, a intenção desta publicação não é sistematizar as temáticas abordadas pela BNCC, nem ao menos reduzir as vivências “Reggianas” a um aglomerado de normas. Ao contrário, é muito enriquecedor que os educadores se sintam provocados pelo estudo e pela reflexão e encontrem espaços para o exercício da autoria, desde que a mesma sempre carregue consigo intencionalidade. 

Quando a Base Nacional Comum Curricular traz o conceito de criança como protagonista em todos os contextos, não apenas para interagir, mas para criar e modificar a cultura de forma geral, podemos identificar uma aproximação com a abordagem Reggio Emilia.

Este protagonismo favorece o conjugar dos verbos: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer a si, ao outro e a coletividade. 

A partir do indivíduo criança, seu protagonismo e seus direitos de aprendizagem, bem como a participação em ambientes favoráveis, inseridos na experiência de Reggio Emilia, a BNCC apresenta cinco campos a serem observados:

– O indivíduo, o outro e o coletivo
– O corpo, os gestos e os movimentos
– Traços, cores, sons e formas
– Escuta, fala, pensamento e imaginação
– Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações

O que nos cabe como educadores? Para muito além de transformar a experiência de Reggio Emilia num ideal distante e inalcançável, que tal aprofundar seus conhecimentos para encontrar caminhos que a aproxime de nossa realidade?

Porque não se inspirar, ainda que em pequenos gotejos, num pouco dessa abordagem tão inspiradora às nossas crianças? 

O que pode ser observado, interpretado e  transformado pelos gestores para que ao menos uma parte disso seja construído?

E você professora, o quanto entrega de protagonismo às suas crianças no cotidiano de sua escola?

Estes questionamentos devem provocá-los verdadeiramente, para que não façamos de Reggio Emilia um lugar distante. Mas para que encontremos, todos nós, um elo que permita transformar o ideal” em algo “possível” considerando os elementos contidos nossa Base Curricular.