Sabe aquele frio na barriga que os artistas narram sentirem momentos antes da entrada no palco para uma estreia de seus espetáculos? Ele não é nascido do medo de encarar o palco, nem de alguma insegurança relativa ao próprio desempenho. É apenas o contato com o inédito, com o novo e o inesperado.
Em alguns educadores (quem sabe até em muitos) os primeiros contatos com suas novas turmas, novas salas ou até mesmo suas novas escolas podem provocar esta sensação que transita entre a ansiedade, a expectativa e a euforia. Tudo absolutamente normal.
Assim como acontece com os artistas, depois dos primeiros acordes (para os músicos), depois das primeiras estrofes (para os cantores) e depois das primeiras falas (para os atores), esta sensação de “montanha russa” vai se diluindo e o show acontece.
O que nos auxilia a todos na superação é justamente a segurança que temos em nossas capacidades, a experiência arregimentada durante a vida, seja de forma geral como adultos, seja de maneira mais específica como professores.
Se nós que já somos “crescidinhos” estamos sujeitos a esse tipo de situação, imagine os pequeninos? Pois esta é a primeira reflexão deste artigo em que trazemos 5 dicas para ajudar na condução destes primeiros momentos:
1. Exercite sua empatia!
Uma das mais humanas maneiras de compreender a dificuldade do outro se dá quando temos a capacidade de sentir o que sentem, imaginar o que imaginam e desejar o que desejam. Um excelente exercício a ser feito em favor, também, de seus recém-chegados colegas educadores.
Em especial para as crianças. Aos que chegam tímidos, retraídos, aqueles que choram contidamente ou aos prantos, os que saem correndo e os que se agarram aos seus familiares. Todos eles. Procure sentir-se em seus lugares no enfrentamento destas rupturas. A empatia conduzirá suas sensações a um lugar mais confortável de compreensão.
2. Eleja o afeto como base estrutural.
Deixar-se afetar pela empatia pavimenta o caminho para o afeto. A partir daí, todo o mais lhe será facilitado. Entregar-se a movimento, gestos e palavras de carinho vão abrir as portas para a construção de boas relações com seus colegas de trabalho, com os familiares que certamente também estão aflitos e muito especialmente com as crianças.
Elas estão chegando vindas dos colos de seus pais, seus avós, seus cuidadores e serão entregues aos seus cuidados, seus conhecimentos acadêmicos, em ambientes com seus cheiros, cores, texturas e sons ainda desconhecidos.
Esta travessia a ser enfrentada pode ter as dificuldades minoradas se este ingrediente afetivo com o qual estão habituados for identificado nestes seus primeiros movimentos em direção a eles. Afete-se e afeiçoe-se.
3. Identifique as linguagens
Cada criança é um inédito. Sendo assim, por mais que estejamos preparados, sempre haverá algo novo a ser observado e registrado. Entretanto, algumas linguagens das crianças são bastante comuns e podem ser abordadas individualmente, cada uma delas com sua proporção exclusiva de ação ou omissão.
Choro, birra, amuamento, dengo são alguns dos mais comuns. O mais importante é não acrescentar elementos que já se apresentarem com altas doses: por exemplo: oferecer abraços a quem apresentar postura mais arredia ou colocar no balanço aquele que se mostra mais inseguro.
Quando identificamos suas reações e as interpretamos como uma forma de expressão do que estão intimamente sentindo, podemos melhor interceder para entregar o que lhes falta, respeitando seus sentimentos. Esta é a arte de conquistá-los não com o que imaginamos ter a oferecer, mas com o que eles esperam que ofereçamos.
4. Conheça bem os espaços e os materiais disponíveis
O acolhimento precisa fazer parte de nossa lista de intencionalidades pedagógicas. Sendo assim, é preciso que tenhamos bom conhecimento espacial e material de nossos ambientes. Mesmo nos momentos de alguma instabilidade emocional, as crianças não se afastam de sua natureza curiosa, desbravadora e criativa.
Uma boa preparação dos espaços e boas escolhas de materiais podem contribuir muito na aproximação, mesmo que inicialmente apenas em forma de entretenimento. Aos poucos o que era apenas uma distração vai evoluindo para o prazer da descoberta, da interação mais profunda e criadora.
5. Os familiares como aliados. A formação da teia de confiança
A introdução ao ambiente escolar, ou da nova escola, ou mesmo apenas da professora da próxima turma não precisa ser um rompimento abrupto. Neste momento em que tudo é novo para todos, o que se espera é que haja uma tecelagem de fios de confiança a formarem um único tecido. A escola.
Muito dos sentimentos carregados pelos pais ou familiares acabam por impregnar em suas crianças. O medo e a insegurança que eventualmente encontramos nos pequenos podem ter sua origem na contaminação pelos mesmos medos e inseguranças contidos nos pais ou responsáveis.
O antídoto para todos é a confiança. Para que ela se estabeleça com maior rapidez, os educadores devem ter em mente que os pais não são adversários, mas aliados. É preciso aproximar-se deles munidos se sua autoconfiança.
Com a família em sensação de segurança, a malha de confiança vai se formando e, da mesma forma, é transmitida às crianças e assim a trama de estabelece. Direção, coordenação, professores e pais envoltos em boas energias. As crianças não só merecem, mas têm direito a esse ambiente favorável.
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E que “abram-se as cortinas”!!