Por Rubens Bollos
O que acontece quando o espaço da educação, um lugar historicamente dedicado ao aprendizado e à construção de valores, se torna palco de intolerância, violência e crises emocionais? Em tempos de polarização extrema e uma verdadeira epidemia em saúde mental, professores, alunos e famílias enfrentam desafios sem precedentes. A campanha #janeirobranco, que busca conscientizar sobre a importância do cuidado com a saúde mental, nos lembra que o bem-estar emocional deve ser uma prioridade em todas as esferas, especialmente na educação. Será que estamos preparados para transformar conflitos em oportunidades de crescimento e diálogo?
A sala de aula, há muito tempo, tem sido um espaço para a formação do pensamento crítico e a construção de valores democráticos. No entanto, nos últimos anos, professores enfrentam crescentes resistências e preconceitos ao promover debates sobre temas sensíveis, como igualdade de gênero, questões raciais, meio ambiente e diversidade. Esse cenário reflete uma sociedade cada vez mais polarizada e desafia educadores a encontrar estratégias para lidar com tais dificuldades sem renunciar de sua missão pedagógica. E o desafio de educar fica ainda mais complicado com o agravamento da saúde mental, tanto dos professores, como dos alunos e de suas famílias, exigindo esforços conjuntos para abordar essas questões de maneira integrada e eficaz.
Os obstáculos, resistências e preconceitos enfrentados pelos professores vão além do simples desacordo. Muitas vezes, eles são alvos de críticas severas por parte de pais, alunos e até colegas de profissão. Essas resistências geralmente estão enraizadas em ideologias ou valores tradicionais que enxergam tais discussões como ameaças às normas estabelecidas.
Ademais, alguns professores relatam discriminação ou tentativas de silenciamento por expressarem opiniões pessoais ou trazerem questões polêmicas para o debate. Essa situação pode gerar um ambiente de autocensura, no qual os educadores hesitam em abordar tópicos fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva e democrática. E a restrição à liberdade é um passo para o sofrimento moral.
Além dos desafios relacionados à promoção de debates, a saúde mental dos professores tem sido uma preocupação crescente, nacional e globalmente. A pressão para lidar com resistências, preconceitos e demandas da comunidade escolar pode levar ao esgotamento emocional, à ansiedade e ao estresse crônico, de consequências tanto para a educação nacional de nossas crianças e jovens quanto para ao erário público, para quantidade de afastamentos causados por saúde.
Neste contexto, a campanha #janeirobranco, voltada para a conscientização sobre a saúde mental, é uma oportunidade para escolas e gestores educacionais darem atenção, desta vez e em especial, ao bem-estar dos professores, incentivando o autocuidado e auto-preservação. Oferecer suporte psicológico e criar um ambiente de trabalho mais seguro e acolhedor são medidas fundamentais para garantir que os educadores tenham condições de desempenhar suas funções de forma saudável e competência plena.
Em um contexto de tensão ideológica, é crucial que as escolas reafirmem seu papel como espaços de aprendizado e troca de ideias. O diálogo não apenas amplia horizontes, mas também permite que os estudantes desenvolvam habilidades essenciais, como a empatia e a capacidade de argumentar respeitosamente e pensamento crítico, fundamentais todos para a evolução da cultura de uma sociedade.
É também necessário reconhecer que a resistência às discussões muitas vezes decorre do medo, falta de informação ou parcialidade do conhecimento factual. Assim, é papel dos educadores criar um ambiente seguro onde todos possam se expressar, sempre com respeito e responsabilidade. E que as ideias transformem-se em conhecimentos e conceitos sólidos baseados na ética e justiça social.
Mas, como superar estes desafios? De alguma maneira, tudo fica para resolver em sala de aula. Então, neste #janeirobranco, seguem minhas 7 propostas para apoiar e sustentar a saúde de nossos professores:
• Cuidem da sua própria saúde mental: professores são seres devotados ao outro e agora devem ser encorajados a buscar apoio psicológico para si quando necessário e a praticar o autocuidado regularmente. Escolas podem oferecer programas de assistência, como sessões de terapia, grupos de apoio e oficinas sobre bem-estar emocional.
• Aprendam a lidar com o mental alterado de alunos e pais: invistam em formação sobre saúde mental e inteligência emocional para reconhecerem sinais de sofrimento psíquico em alunos e seus familiares, desenvolverem empatia e criarem e facilitarem canais de comunicação para lidar com situações desafiadoras e evitar conflitos.
• Cobrem apoio de gestores públicos: é essencial que eles sejam responsabilizados a apoiar ações concretas que melhorem as condições de trabalho dos professores. Isso inclui investimentos em infraestrutura escolar, apoio psicológico aos profissionais e financiamento de cursos de capacitação que preparem vocês para desafios atuais, como mediação de conflitos e enfrentamento de questões de saúde mental.
• Alinhem-se ao projeto pedagógico da escola: ter clareza sobre os objetivos educacionais e os valores defendidos pela instituição é essencial para garantir respaldo em situações de conflito e na relação com seus pares
• Invistam em formação contínua: cursos e treinamentos sobre mediação de conflitos e abordagens pedagógicas podem fornecer ferramentas valiosas para lidar com resistências e promover debates saudáveis.
• Estabeleçam regras claras de convivência: garantir e pactuar que todos os participantes compreendam as normas de respeito e civilidade é essencial para evitar que as discussões se transformem em ataques pessoais e ou gerem violência social
• Incentivem a participação de todos: a inclusão de diferentes vozes enriquece os debates e ajuda a desconstruir preconceitos de maneira coletiva. Lembrem-se que respeitar é crucial, ajuda a aceitar um processo transformador e inclusivo.
E qual é o papel da comunidade escolar?
A superação dos preconceitos e resistências é um desafio que exige o envolvimento de toda a comunidade escolar: estudantes e seus pais, professores, funcionários, gestores, precisam trabalhar juntos para promover um ambiente educacional que valorize o respeito à diversidade e ao pensamento crítico.
Neste sentido, é importante que as escolas também se comprometam com a saúde mental de toda comunidade, num processo mais próximo à andragogia social. Isso inclui oferecer espaços de escuta, criar políticas que valorizem o bem-estar e promover atividades, festividades e comemorações que reforcem a conexão entre os membros da comunidade escolar. Estamos celebrando muito pouco em nossas vidas e o otimismo é tomado pelo pessimismo!
Quando a escola se posiciona como um espaço de pluralidade e cuidado, ela não apenas prepara os alunos para os desafios do mundo moderno, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. O papel do professor, embora repleto de desafios, é central nessa missão.
A questão do conteúdo curricular tem sido um problema (e um sofrimento) à parte e sobre ele merece outro tempo de reflexão. Mas que tem sido fonte de desvitalização para professores, alunos e seus tutores, não há dúvida. A educação deve ser fonte de saúde e não espaço de adoecimento.
Finalmente, promover debates na educação com vitalidade em tempos de polarização é uma tarefa que exige coragem, preparo e empatia. Caso contrário, morreremos pelo cansaço e desistências, pelo analfabetismo cognitivo e social antes que o da leitura e factual. Apesar deste contexto, é fundamental que os educadores persistam em seu compromisso de formar cidadãos conscientes e críticos. Ao mesmo tempo, é imprescindível cuidar da saúde mental dos professores, garantindo que tenham suporte e ferramentas para lidar com as pressões do dia a dia. A campanha #janeirobranco nos lembra da importância de valorizar a saúde emocional em todos os âmbitos, incluindo o educacional, para construir uma sociedade mais equilibrada e harmoniosa. Cuidar da mente é cuidar de você. Faça do #janeirobranco 2025 o início de uma transformação em sua vida.
E você, o que tem feito para estimular a valorização e cuidado do professor dos seus filhos? Não critique. Faça propostas! E seja bem-vindo à sociedade livre e democrática dos que acreditam na esperança de dias melhores. Eu acredito!
Rubens Bollos é médico, mentor e palestrante. Mestre e Doutor (Ph.D) em Ciências da Saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e Pós-Doutorado em Biologia do Desenvolvimento (USP/ICB). Pesquisador nas áreas de imunologia, epigenética, salutogênese e cultura de paz com foco no estudo de indicadores de êxito em saúde. É presidente-fundador da ABMPP.org (Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão).
Deixe um comentário