Compelidos que estamos, por respeito, por medo ou por decreto, a permanecermos em nossas casas em afastamento social, fomos também estimulados a compor nossas vidas em outros ritmos e ambientes.
Pais e mães se ativando em modo pedagogo, e este próprio se ativando a pai e mãe. São educadores convivendo com filhos e pais convivendo com alunos.
Nossas salas e quartos se transformando em chão de escola, em quintal e em parque. Sofás e cadeiras agora são trampolins e torres de escaladas. Mergulhos e piruetas nas camas, sempre desarrumadas. A cada copo d’água, uma nova peça de louça a ser lavada. Crianças transbordando energia e carência de convívio, derramando-se em correria pela casa.
Vizinhos incomodados e silentes, como que respeitando esse “luto” vivido por todos, pela perda de nossa liberdade de conviver e abraçar.
Nas ruas, olhares assustados são tudo que nos restam. Máscaras nos cobrem o semblante feliz que nos escapa quando diantes de uma flor, de uma borboleta, de uma criança… Sequer o sorriso sutil que se entrega a um desconhecido é recebido, ainda que o tenhamos enviado.
Por certo que vai passar. Ah, isso vai. Mas o quanto isso vai nos marcar, ou a nossos filhos? Quanto tempo de evitar o convívio é adequado, se sequer sabemos o quanto dele nos resta para viver?
Por hora, pulsar nosso coração em boas vibrações, apertar nossos abraços em oração por quem amamos, abrir nossas casas para nossos próprios filhos, para que eles não apenas habitem, mas para que nela vivam, e alargar nossos sorrisos mesmo por detrás das máscaras. Porque ainda assim, podemos vibrar amor ao próximo e colocar este amor em exposição, em nosso olhar, em nosso lar.