Desenhar é um ato de sobrevivência e de permanência na história. Basta nos atentarmos para os mais remotos registros que o homem foi capaz de produzir. São eles, os desenhos. Eles variam a partir das diversidades culturais, geográficas e sociais, mas em comum a todos, seus traços contam nossa história, nossa evolução.
O que nos primórdios eram traços mais rudimentares, produzidos a partir das ferramentas disponíveis, hoje são mais precisos e refinados. Do entalhar nas pedras à lapiseira, muito já foi relatado através dos desenhos, que consistem em uma importante modalidade de comunicação.
E por que é que com o advento da escrita, o desenho jamais foi relegado à segundo plano? É simples. Porque ele encerra uma infinidade de informações que são transmitidas de forma simultânea. Ele é capaz de informar ao observador, por exemplo, o estado emocional do autor, seus sentimentos com relação à mensagem, informa sobre suas habilidades e conhecimentos. E não para por aí. Ele é capaz de informar sobre eventos históricos, sobre as formas de sobrevivência de uma comunidade, sobre suas crenças e manifestações artísticas.
Somada à força construtiva e evolutiva do “desenhar”, está seu caráter brincante. A criança quando desenha, traça uma linha que une seu desejo, seu sentimento, sua representação mental e sua mão, de forma a produzir aproximação afetiva entre os elementos: cérebro, coração, mãos, lápis e papel. Quem sabe não seja, esta combinação, uma das adutoras da arte.
Edith Derdyk, que não carece de muita apresentação, é daquelas artistas inundadas por tantas adutoras. Autora, ilustradora, artista plástica, pesquisadora, educadora nos ensina:
“O desenho – linguagem tão antiga e tão permanente – vinca o desígnio do desejo de elos (e)ternos entre crianças e adultos, entre artistas e educadores.” – (Formas de pensar o desenho – Desenvolvimento do grafismo infantil – Editora Panda – 3ª edição – 2020, pg 15).
A obra citada acima é daquelas que não podem faltar nas prateleiras das bibliotecas, das casas e nas mãos de todos nós, pais e educadores. Estabelecer uma compreensão sobre a origem, conceitos, pré-conceitos, aproximar-se dos desenhos das crianças, reconhecer o despertar da linguagem gráfica, as conquistas, a imaginação e a memória. O livro faz parte do Kit de outubro da Diálogos Embalados.
Recheado de imagens primorosas, o livro também faz um passeio no tempo, trazendo observações sobre o desenho de nomes como: daVinci, Delacroix, Van Gogh, Paul Klee, Steiberg, Iberê Camargo, entre outros.
Entregar nossas crianças ao desenho e às suas infinitas possibilidades é, acima de tudo, um ato de generosidade. Permitir suas expressões gráficas é dar-lhes escuta. É possibilitar-lhes uma relação direta com seus desejos e dar-lhes voz.
Entre os refinados e precisos traços do artista ou do habilidoso arquiteto e aqueles iniciais, vindos de uma criança, só existe um caminho: o da liberdade. O desenho é o caminho mais curto entre o criador e a criatura, entre o artista e a arte, entre o esboço e obra finalizada. Ele abarca as impressões corpóreas e extracorpóreas, e é capaz de definir, e de definir-se, encerrando por completo seu tema. Tanto que, na nossa Língua Portuguesa, surge uma expressão para quem pretende se fazer compreendido:
“…entendeu, ou quer que eu desenhe?…”