Quem de nós nunca se viu assustado com o aproximar de alguém com o rosto coberto por uma máscara? Ou ao menos não se lembra dos filmes do “velho oeste” americano, com seus vilões e seus rostos cobertos por lenços? Seria inevitavelmente um assalto à diligência, ou um confronto com os soldados da cavalaria, que também cobriam seus rostos com lenços estampados nas cores da bandeira americana.
Ou quem sabe, num outro momento, não tenhamos nos encantado com personagens tão queridos, do universo Disney ou de Maurício de Souza? Aquelas máscaras enormes de Pato Donald, Mickey, Cebolinha e Mônica? Quem sabe não sentimos saudades de algum super-herói que, em nossa imaginação, estaria pronto para salvar o mundo de alguma invasão?
E o que dizer do nosso tradicional carnaval? Os requintados “bailes de máscaras” que remetem à Veneza (Itália), ou mesmo os blocos de rua com suas máscaras de personagens famosos da política ou futebol? E os maravilhosos “bonecos de Olinda”?
As máscaras estão no convívio do ser humano, de acordo com alguns estudos, desde o ano 9000ac, e por algum motivo, nos acompanham desde então. Povos primitivos, antigas civilizações como a Chinesa, os Egípcios e Gregos. A Índia e Japão, com seus toques tão expressivos e peculiares. Máscaras confeccionadas a partir de uma infinidade de materiais, cores, formatos e intenções. Cultuar seus deuses, afastar maus espíritos, divertir, colorir, encantar…
Um dos aspectos mais intrigantes e estimulantes é o mistério que as máscaras representam. A curiosidade em conhecer o rosto escondido, a fantasia que nos instala no imaginário, que nos permite acreditar que por trás da máscara, pode estar quem nós desejamos que esteja. Possivelmente seja este um dos motivos pelos quais as máscaras nos acompanham há tanto tempo. Temos uma atração natural pelo mistério, que se potencializa com nosso poder de fantasiar o impossível. Sonhar…
Como não poderia escapar, nossa língua também incorporou a máscara em algumas de suas expressões. No futebol, o jogador considerado mascarado é aquele que “se acha”. Quando se ouve dizer de alguém que “a máscara caiu”, sabemos que suas falsidades foram descobertas e suas reais intenções reveladas. De alguma forma, a máscara protege a quem não deseja ser conhecido, ou ter desvendadas as suas pretensões mais inconfessáveis, sejam elas reais ou surreais.
Nos dias de hoje, com as dificuldades que nos estão impostas pela pandemia, e com a obrigatoriedade e necessidade de uso de máscaras de proteção, acabamos por nos esquecer das belezas e mistérios que envolvem este adereço milenar. Perdemos temporariamente nossa ludicidade. As máscaras sempre fizeram parte de algum espetáculo, e sempre encheram nossos olhos de alegria, encantamento e espanto.
Ora, façamos um exercício. Vamos olhar para as nossas máscaras atuais com nossos olhos de infância, a imaginar seus heróis; ou com nossas sensações da adolescência, a desejar o encontro com nossos príncipes ou princesas, que nos farão felizes para sempre; e se não for possível este exercício lúdico, que ao menos olhemos para as máscaras com a sabedoria do universo adulto, que reconhece a proteção que ela designa para si e para outros.
Seja como for, a máscara e sua simbologia nos acompanharão por muito mais tempo. Seja para ocultar as identidades, para cultuar os desconhecidos, para fantasiar os desejos ou apenas adornar, que ela esteja sempre entre nós a nos encantar e nos envolver em seus mistérios.
Que elas permaneçam nos rostos dos príncipes, princesas, palhaços, heróis e personagens. Que sigam estimulando nosso imaginário, que as preces feitas sob sua magia sejam ouvidas, que as artes tenham mais luz com seus brilhos. Que as dos malfeitores caiam. Mas que, o quanto breve, possam cair, também, as que estão hoje em nossas faces e, desmascarados, voltemos e entregar beijos e sorrisos.