AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Quando nos referimos às múltiplas linguagens da criança, em verdade estamos sugerindo que o educador atento esteja aberto a quaisquer possibilidades de interação, comunicação e expressão que se originem da criança sob seus olhos.
Muito mais do que definir uma lista das modalidades de linguagens, o mais importante é o despertar de uma nova maneira de observar a infância, a partir de suas inúmeras maneiras de expressão.
Como nos ensina “Loris Malaguzzi”, a criança tem cem linguagens. E são elas que formam um elo entre a ação pedagógica, sua intencionalidade subjetiva e sua efetividade.
O que são as múltiplas linguagens na educação infantil?
Todas as ferramentas de que dispomos para produzirmos nossas interações pessoais e sociais são consideradas linguagens.
Nos espaços coletivos de educação infantil são abundantes as explorações das linguagens visuais, com as cores, as imagens e os traços gráficos sempre tão disponíveis. Da mesma forma os sons na utilização dos instrumentos, das vozes e da música.
Quando dançam e brincam, estão também fazendo uso de uma linguagem corporal, também muito ativa e presente nas crianças dos ensinos iniciais e fundamental.
Entretanto, é importante que o educador esteja aberto, com olhos, ouvidos e afeto para a identificação e validação de tantas outras linguagens que as crianças apresentam no cotidiano de sua escola.
Qual o papel do educador nas múltiplas linguagens?
Se, por acaso, estamos a tratar de um educador atento e que acredita no potencial da criança e em sua capacidade criativa e transformativa, então sabemos que o papel do educador no reconhecimento das inúmeras linguagens da criança é absolutamente fundamental.
Para que tal situação ocorra, como tão bem nos pontua Maria Alice Proença, em seu livro “O registro e a documentação pedagógica: entre o real e o ideal…o possível” :
“A competência profissional é pautada em estudos, leituras, pesquisas e muitas trocas de idéias e práticas cotidianas. O professor, tal como a criança, precisa vivenciar as experiências, possibilidades e sentimentos, tais como ousadia e curiosidade diante do desconhecido; fortalecimento de vínculos com seus pares e consolidação de um grupo com interesses semelhantes voltado para um determinado fim; vivência de conflitos e alegrias no cotidiano como fonte de experiências; e o prazer de brincar, de explorar palavras, objetos e demais sujeitos presentes, pondo-se em jogo nas relações vivenciadas no cotidiano da escola.”
Sendo a criança um sujeito sensível e criativo, e sendo a escola o lugar onde suas manifestações são (ou deveriam ser) mais intensas, o educador precisa reconhecer suas linguagens quando emitem suas opiniões, quando requerem ajuda, quando apresentam as narrativas nascidas de suas experiências, quando produzem suas artes, quando gargalham ou choram, quando gritam… Quando calam.
Este é o exercício dos direitos da criança, em manifestar-se com a utilização de múltiplas linguagens. Numa proposta de educação onde se busca, cada vez mais, dar espaço à criança para que ela esteja em condição de protagonista, e não a de coadjuvante, todas as suas formas de interagir com o mundo ao seu redor são importantes e merecem ser validadas.
Afinal, como seria possível construir uma ideia de educação que busque colocar a criança no centro e não à margem dos projetos, sem que se faça uso de suas demais linguagens? Dar vazão à arte em suas diversas variantes, explorar os movimentos do brincar livre, da socialização e das interações com outras crianças e com os adultos responsáveis, devem se somar às outras mais convencionais, como a escrita e a fala.
O trabalho com as múltiplas linguagens, partindo-se da premissa de que a criança desenvolve suas aprendizagens a partir de todas as possibilidades que lhe são ofertadas, certamente é uma das maneiras mais eficazes de favorecer e potencializar esses aprendizados.
E acredite: muito mais do que apenas ofertar situações que explorem as múltiplas linguagens como simples cumprimento de um direito da criança, o educador deve buscar a compreensão mais profunda que o tema exige.
A infância e sua complexidade trazem também consigo uma infinidade de possibilidades, que se manifestam por intermédio da criança e suas inúmeras e, por vezes, inusitadas formas de comunicação com o mundo ao seu redor. E aqui é que reside a importância do educador atento.
Reconhecer, identificar e fazer uso das linguagens que se apresentarem no cotidiano, aproximando-se dos interesses e anseios da criança, dando-lhe espaço criativo e estimulando-lhe a comunicação.
A construção das aprendizagens pode encontrar muito vigor e potência nos espaços onde educadores estejam atentos à criança e a ouça, a veja e a acompanhe, para que se reconheçam como parte e se construam como ser.
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