O que fazer com este movimento?
Se você tem ido aos Shopping Centers, aos parques, às praças ou a qualquer outro lugar onde se reúnam pessoas, muito possivelmente se deparou com grupos multietários promovendo as famosas trocas de figurinhas.
Este movimento acompanha o ciclo quadrienal dos campeonatos mundiais de seleções há muitos anos e sempre renova suas forças às vésperas do início da competição. No Brasil, onde o futebol é bastante vibrante, isso toma proporções ainda maiores.
É muito interessante observar adultos interagindo com crianças para se encontrarem num objetivo comum: preencher seus álbuns com os jogadores das seleções, num reencontro com suas infâncias.
Para quem ainda olha para isso com algum desprezo ou desconfiança, vale refletir sobre algumas questões interessantes, que podem nos auxiliar (tanto como pais e também como educadores) a compreender e fazer uso desta ferramenta cíclica.
Uma rara oportunidade de promover interações
Vindos de tempos de afastamento com as restrições que a pandemia nos imprimiu, estamos vivenciando as dificuldades das crianças com a possibilidade de retorno ao convívio social. Muitas delas passaram metade de suas vidas em clausura e sequer tiveram a oportunidade de experimentar uma vida em conjunto, especialmente com outras crianças.
É o momento em que os craques do futebol entram em campo em nossas casas, nossos parques e nossas escolas e reúnem nossas crianças num experimento social de interação e integração. Eles precisam se falar para ajustarem os interesses de um às possibilidades do outro.
Tudo isso acontece fora de seus equipamentos eletrônicos. É uma ação orgânica onde encontram motivos para interagir e negociar suas figurinhas. E não apenas com seus colegas de sala, mas com qualquer outra pessoa, adulto ou criança.
Nesta possibilidade de interagir com o outro a partir de um interesse comum de ambos é que se pode encontrar uma excelente oportunidade de promover o bom convívio, o respeito e o desprendimento.
A importância das coleções
Muitas crianças apresentam desde cedo um interesse por colecionar coisas. Pedras, bonecos, carrinhos, e a mais variada gama de objetos. Todos sabemos o quanto isso é comum e ao mesmo tempo muito valioso.
Quando se dispõem a colecionar, as crianças estimulam sua curiosidade, sua estratégia de seleção dos itens, sua minuciosidade e sua capacidade de manutenção e preservação dos objetos de sua coleção.
Mesmo que as figurinhas sejam estruturadas, elas promovem durante este período as mesmas reações. As crianças se interessam pelos detalhes de cada jogador, onde nasceram, seus nomes completos, peso, altura, etc.
Nomes, letras, números e bandeiras
Cada figurinha carrega, além da imagem do jogador, o nome de seu país, seu próprio nome, o número de sua camisa e o número da figurinha correspondente ao álbum. Para os pequeninos, um processo de decodificação dos símbolos. Para os maiores, o contato com palavras em idiomas diversos.
Para todos eles as bandeiras de diversas nações, as diversidades e principalmente: o convívio harmônico que há de existir entre todos os povos.
As culturas das nações
Para nossa felicidade, o Brasil é construído por um caldo cultural cujos ingredientes se compõem das culturas de inúmeros outros países. Aqui convivemos com todos os povos em absoluta harmonia.
Isso se reflete em nossa própria língua, em nossos costumes e nossa culinária. Em nossas escolas são comuns as famílias vindas de outros lugares do mundo. Quem sabe não seja uma oportunidade de se apresentarem?
Entregar às crianças, a partir do interesse pelas figurinhas e os jogadores do mundo todo, um pouco de suas tradições, suas histórias, sua comida e seus hábitos? Esta aproximação, como todo processo de conhecimento, aumenta o respeito e as cargas afetivas coletivas.
Interesses comuns
Sabe aquela teoria que sempre repetimos sobre observar os interesses das crianças e a partir dele encontrarmos nossas intervenções de intencionalidade? As coleções de figurinhas de álbum da copa do mundo são um belo exemplo.
E não vai requerer muito esforço. Saiba que nas mochilas de nossas crianças, num compartimento secreto, em seus bolsos ou entremeando as folhas de seus cadernos, possivelmente já pode estar habitando um jogador, um estádio ou um distintivo de alguma seleção.
Se em seu ambiente escolar esta presença estiver vetada, acredite: elas estarão habitando seus pensamentos e seus desejos. Quem sabe não seja a oportunidade de nos aproximarmos das crianças de forma real?
Quantos de nós estamos aproveitando melhor nossos tempos de presença para, juntos, abrirmos os pacotinhos e desfrutarmos da ansiedade deste momento? De comemorarmos o encontro com “Messi”, “Neymar” ou “Cristiano Ronaldo”?
O que fazer com as figurinhas, álbuns, tabelas das “repetidas”?
Mais importante do que encontrar a figurinha que falta em nosso álbum, é nos reencontrarmos com o que tem nos faltado há tanto tempo. Com a importância de nossas presenças.
Vamos trocar umas figurinhas?